Por
Dalinha Catunda
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Da união de Antonio Bezerra de Pinho e Rosina Catunda de Pinho, nasceram Expedito, Ludovico e Piragibe. No meio dessa família essencialmente masculina, despontara, fazendo história, Isa Catunda de Pinho.
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Quem não se lembra da antiga professora que, ao contrário das severas mestras, optava pela palavra ao invés da palmatória. Era o seu tempo o das caligrafias, letras bonitas, que primeiro aprendíamos a cobri-las para depois nos atrevermos a desenhá-las.
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Mulher de farta leitura e sem egoísmo, de uma memória extraordinária. Cada romance que lia, era contado por ela, na boca da noite, nas calçadas das Ipueiras. Não sem antes nos dizer quem era o autor. Assim conheci José de Alencar, com seu “Tronco do Ipê”, Juvenal Galeno com Sua “Jangada de Velas”, Gonçalves Dias com a “Canção do Exílio e tantos outros.
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Professora de valores renomados de nossa terra que hoje se destacam em diferentes áreas e a reconhecem como um exemplo a ser seguido e citado. Catequista a preparar crianças para primeira comunhão. Beata a freqüentar igreja todos os dias nos finais de tarde.
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Dela herdei um santuário (ou oratório) que, certamente, tem mais de cem anos. E, junto com ele, ela me ofertou a imagem do menino Jesus de Praga. Reafirmo, porém, que a herança maior que ela me deixou foi o gosto pelos livros. o que me levou a escrever e contar histórias seguindo seu exemplo.
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A imagem mais marcante que tenho da titia é de seu ritual dos finais de tarde. Sempre muito limpa, cheirando a talco e sabonete, ela se dirigia para a igreja matriz, com terço e missal nas mãos. E com uma elegância e a altivez peculiar dos Catundas.
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Minha Tia lamentou e chorou, a vida inteira, a morte de um namorado assassinado. E lamentou os amores que não pôde viver. Dizia-me que não teve sorte no amor. Daí certamente sua entrega maior a um Deus que ela soube amar acima de todas as coisas. Com um coração enorme, abraçou todas as crianças que lhe erguiam os braços.
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Gentil e educada, fez uma legião de admiradores, que hoje choram sua partida e guardam, com carinho e respeito, sua memória, exaltando seus feitos. Deus, certamente, agradecido a esta filha que pregou sua palavra, rezou e cantou em seu louvor. Escolheu o dia 20 de julho, o dia do amigo - o dia internacional da amizade - para abrir suas portas e recebê-la de braços abertos em pleno domingo, dia de descanso e orações.
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Descanse em paz, titia!
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Dalinha Catunda
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Foto do acervo da autora: D. Isa e Luis Henrique, filho de Dalinha.
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – Poetisa, Escritora e Cordelista. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio: (cantinhodadalinha.blogspot).
3 Comentários:
A homenagem de Dalinha já era esperada por todos nós. Linda em suas palavras e em seu sentimento. D. Isa merece todas as nossas homenagens.
Linda homenagem Dalinha, vc soube captar muito bem o sentimento e a grandeza do coração de sua querida tia e estimada por todos que outrora a conheceram. Vejo D. Isa como a estrela mais brilhante do firmamento e que escolheu Ipueiras para iluminar a todos nós com seu brilho e finalmente retorna a Pátria espiritual com a certeza de que cumpriu a sua missão aqui com muito mas muuuito amor no coração.
Lembro-me que quando a revisitei após 13 anos sem ir a minha
cidade, ela me falou de seu grande amor, que por sinal era meu tio irmão de meu pai, ele se chamava Raimundo Mourão e tendo ido embora para o Amazonas, prometeu voltar um dia para buscá-la, mas acabou morrendo por lá. Daí eu consegui com meu primo Carlos aqui em Brasilia uma foto de meu tio e a próxima ida a Ipueiras levei esta foto em um quadro, que a deixou muito feliz e ficava sempre em seu quarto a seu lado. Um dia faremos uma homenagem a altura desta grande estrela nossa querida Tia Isa. Muita paz, muita luz e até breve.
Teresinha Mourão
Uma homenagem tocante e ao mesmo tempo realista e próxima da figura que de forma a nos empobrecer, partiu. Dalinha soube colocar no texto seus sentimentos sem mesclá-los excessivamente com o vulgar sentimento pessoal, fazendo do texto não só um elogio a Tia como uma rica, saudosa e sentida narrativa.
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