Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

9.7.08

A BALADA DE UMA GUERREIRA

Por
Bérgson Frota

“Uma homenagem à gente humilde de Ipueiras”

Já se vão muitos anos que tal fato se deu. Foi no tempo do cangaço, tempo de luta e medo.
Num pálido amanhecer, correu por Sarieupi a alarmante notícia.
O bando de João Breguelo, cangaceiro temido, estava a trote rápido em direção à cidade.
Seria saque na certa, tinha fama de carniceiro.
Desprotegido o povo, logo em pânico entrou.
A lua estava cheia naquele dia fatídico.
Os loucos corriam às praças pelo astro movidos.
Um chamado Abraão gritava a plenos pulmões a profecia final. Outra cega e insana que atendia por Boré, gritava alto impropérios, não certos para mulher.
Havia também Carolina, mendiga de pernas finas que só fazia escutar.
Zacarias outro louco, dentro desta confusão perdia-se em gargalhar, enquanto o médico Melquíades a todos com grande esforço procurava ajudar.
Vicente, um bom padeiro, que a Virgem devolveu-lhe o falar, balbuciava no Arco a graça de se salvar.
Antônio Simão matemático, homem bom calculador, fazia rabiscos num mapa, intentava descobrir, por qual entrada da vila o homem ia surgir.
O farmacêutico Idálio atendia sem parar na botica São José gente a se contar. Era mulher pra parir com nervosismo aumentado, era homem que as calças não paravam de molhar.
Lá pras bandas da Estação, Lili fazia sua renda, mulher de fibra e coragem, cearense de prenda.
Quando soube da notícia nada se alarmou, deixou de lado os bilros e pra cidade rumou.
Viu de perto o medo, mas não se acovardou.
Reuniu o povo em torno, clamou uma reação.
Chamou a coragem dos homens, que a terra forte pariu.
Mas bastou ouvir um tiro, e a praça se esvaziou. Ficando só o Telógo, que mudo não escutou.
Do tiro foi um instante, e o bando se fez entrar.
A cidade servilmente rendeu-se sem batalhar.
Lili encarou João Breguelo, e pôs-se diante do homem.
Foi amor de só olhar.
O cangaceiro estacou, o bando seguiu o gesto. Desceu rápido a montaria, puxando pelo cabelo a mulher que lhe rendia. Tentou-lhe roubar um beijo, ela rápido escapou, devolvendo em bofetada o ato de atrevimento.
Era morte na certa pensava quem assistiu.
Mas contava com a sorte, a brava Lili presentia.
O cangaceiro apaixonado, pela mulher se dobrou. Da mesma forma atraída, Lili dele se encantou.
Depois de parlamentar, o cangaceiro aquietou-se. Montou Lili no cavalo depois nele montou-se.
Saíram sem nada tocar, poupando o povo e lugar.
Mas o caso ficou registrado pra este contista narrar.
A história de uma rendeira que um cangaceiro dobrou, e com coragem e ternura, a sua terra salvou.
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( Foto : Fotograma do filme O Cangaceiro de Lima Barreto, 1953 )
(Publicado no O Povo, de Fortaleza-Ce, em 21.06.2008)
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Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzido artigos de relevância atual.

8 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Um interessante e competente exercício de ficção, homenageando tipos conhecidos da história da cidade de Ipueiras, no Caerá. Muito bom de ler. Parabéns ao escritor Bérgson Frota.

9.7.08  
Anonymous Anônimo disse...

Professor gostaria de lhe parabenizar por esta grandeza de texto, ouvi neste periodo muita critica a seu respeito e a seus trabalhos, lhe chamando de egocëntrico e que sõ quer se divulgar, ao fazer um texto dedicado a gente humilde de Ipueiras, o senhor mostrou o quanto ladram os caes, mas a carruagem continua. Parabens.

10.7.08  
Anonymous Anônimo disse...

Parabéns pelo trabalho que como disse Maria Alice, é uma grande homenagem ao povo humilde da nossa amada Ipueiras.

10.7.08  
Anonymous Anônimo disse...

Que cordel bem rimado, nota mil pelo trabalho e dez mil pelo conteúdo.

10.7.08  
Anonymous Anônimo disse...

No tempo dos cangaceiros, gostei dessa história, bem humorada na velha Sarieupi. Parabéns Bérgson.

11.7.08  
Anonymous Anônimo disse...

Um primoroso trabalho de cordel e colocando os tipos populares que fazem ou fizeram o bom povão de Ipueiras. Está de parabéns o autor.

11.7.08  
Anonymous Anônimo disse...

Gostei muito deste trabalho Bérgson, espero outros tão bons a nos presentear. Parabéns.

12.7.08  
Blogger Dalinha Catunda disse...

Bérgson,
Muito boa essa farra em cordel.
Só nós que conhecemos cada ente citado por você, de vista ou de ouvir falar, podemos avaliar o verdadeiro valor deste trabalho.
Parabéns.
Dalinha

31.7.08  

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