A BALADA DE UMA GUERREIRA
Já se vão muitos anos que tal fato se deu. Foi no tempo do cangaço, tempo de luta e medo.
Num pálido amanhecer, correu por Sarieupi a alarmante notícia.
O bando de João Breguelo, cangaceiro temido, estava a trote rápido em direção à cidade.
Seria saque na certa, tinha fama de carniceiro.
Desprotegido o povo, logo em pânico entrou.
A lua estava cheia naquele dia fatídico.
Os loucos corriam às praças pelo astro movidos.
Um chamado Abraão gritava a plenos pulmões a profecia final. Outra cega e insana que atendia por Boré, gritava alto impropérios, não certos para mulher.
Havia também Carolina, mendiga de pernas finas que só fazia escutar.
Zacarias outro louco, dentro desta confusão perdia-se em gargalhar, enquanto o médico Melquíades a todos com grande esforço procurava ajudar.
Vicente, um bom padeiro, que a Virgem devolveu-lhe o falar, balbuciava no Arco a graça de se salvar.
Antônio Simão matemático, homem bom calculador, fazia rabiscos num mapa, intentava descobrir, por qual entrada da vila o homem ia surgir.
O farmacêutico Idálio atendia sem parar na botica São José gente a se contar. Era mulher pra parir com nervosismo aumentado, era homem que as calças não paravam de molhar.
Lá pras bandas da Estação, Lili fazia sua renda, mulher de fibra e coragem, cearense de prenda.
Quando soube da notícia nada se alarmou, deixou de lado os bilros e pra cidade rumou.
Viu de perto o medo, mas não se acovardou.
Reuniu o povo em torno, clamou uma reação.
Chamou a coragem dos homens, que a terra forte pariu.
Mas bastou ouvir um tiro, e a praça se esvaziou. Ficando só o Telógo, que mudo não escutou.
Do tiro foi um instante, e o bando se fez entrar.
A cidade servilmente rendeu-se sem batalhar.
Lili encarou João Breguelo, e pôs-se diante do homem.
Foi amor de só olhar.
O cangaceiro estacou, o bando seguiu o gesto. Desceu rápido a montaria, puxando pelo cabelo a mulher que lhe rendia. Tentou-lhe roubar um beijo, ela rápido escapou, devolvendo em bofetada o ato de atrevimento.
Era morte na certa pensava quem assistiu.
Mas contava com a sorte, a brava Lili presentia.
O cangaceiro apaixonado, pela mulher se dobrou. Da mesma forma atraída, Lili dele se encantou.
Depois de parlamentar, o cangaceiro aquietou-se. Montou Lili no cavalo depois nele montou-se.
Saíram sem nada tocar, poupando o povo e lugar.
Mas o caso ficou registrado pra este contista narrar.
A história de uma rendeira que um cangaceiro dobrou, e com coragem e ternura, a sua terra salvou.
(Publicado no O Povo, de Fortaleza-Ce, em 21.06.2008)
8 Comentários:
Um interessante e competente exercício de ficção, homenageando tipos conhecidos da história da cidade de Ipueiras, no Caerá. Muito bom de ler. Parabéns ao escritor Bérgson Frota.
Professor gostaria de lhe parabenizar por esta grandeza de texto, ouvi neste periodo muita critica a seu respeito e a seus trabalhos, lhe chamando de egocëntrico e que sõ quer se divulgar, ao fazer um texto dedicado a gente humilde de Ipueiras, o senhor mostrou o quanto ladram os caes, mas a carruagem continua. Parabens.
Parabéns pelo trabalho que como disse Maria Alice, é uma grande homenagem ao povo humilde da nossa amada Ipueiras.
Que cordel bem rimado, nota mil pelo trabalho e dez mil pelo conteúdo.
No tempo dos cangaceiros, gostei dessa história, bem humorada na velha Sarieupi. Parabéns Bérgson.
Um primoroso trabalho de cordel e colocando os tipos populares que fazem ou fizeram o bom povão de Ipueiras. Está de parabéns o autor.
Gostei muito deste trabalho Bérgson, espero outros tão bons a nos presentear. Parabéns.
Bérgson,
Muito boa essa farra em cordel.
Só nós que conhecemos cada ente citado por você, de vista ou de ouvir falar, podemos avaliar o verdadeiro valor deste trabalho.
Parabéns.
Dalinha
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