VERSOS TORTOS
Estou cansada de heroínas,
Mulheres que sabem e podem tudo.
Logo eu, tão cheia de defeitos,
Construída de pedaços desfeitos.
Tantas vezes sem respostas,
Perdida entre escolhas e apostas.
Todas as mulheres que conheço são auto-suficientes
Atletas, politicamente corretas, inteligentes.
Nenhuma admite gostar de bobagens,
Ficar horas sem fazer nada, pura inutilidade,
Todas são bem educadas e não falam de sacanagem.
Onde fico, se tem dias que só quero falar de futilidades,
Não estou nem ai para política, ciência, filosofia?
Quero é olhar a lua, namorar e rir um pouco da hipocrisia.
Todas as mulheres do século vinte e um
Detestam a Amélia, falam mal de suas escolhas.
Não conheço nenhuma que confesse gostar de cozinhar
E se confessar é apenas por hobbie, para “desestressar”.
Ah como eu queria encontrar uma, uma mulher que fosse,
Que confessasse que gosta de fazer tarefas domésticas,
Mesmo sendo livre e emancipada,
Que dissesse sem medo ou vergonha,
Que adora ficar em casa sem fazer nada,
Que sai na rua sem maquiagem,
Que já teve medo e sofreu por amor...
Estou cansada dessa geração saúde...
Quero poder viver sem medo de morrer
E ser tudo ou nada, mas ser autenticamente feliz
Mesmo que isso signifique fazer o que nunca fiz!
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5 Comentários:
O blog Suaveolens tem duas poetisas que nos brindam sempre com páginas incríveis. São Dalinha e Ângela Gurgel. E o que elas têm em comum? Simples, a alma de poeta. Vão fundo. Nos pegam de surpresa. Ângela, essa arrasou. Parabéns.
Concordo, Jean Kleber,
Realmente Ângela arrasou mesmo.
Eu me identifico muito com tudo que Ângela escreve e esse poema diz tudo que eu gostaria de ter dito.
Um abraço,
Dalinha
Ângela se supera neste trabalho, feito uma Cassandra maldita, louca mas verdadeira ela "chuta-o-pau-da-barraca" e se mostra aversa as hipocrisias reinantes neste mundo tão seu e tão por nós conhecidos.Parabéns, evoé !
Bérgson Frota
Sempre que vejo meus trabalhos postados aqui sinto um orgulho enorme de mim mesma (sem modéstia), pois sei que estou figurando ao lado de pessoas que verdadeiramente escrevem, talentos natos e estar entre vocês é uma honra. Obrigada Dalinha, Bérgson e Professor Jean por seus comentários e incentivo. Boa Noite. Um forte abraço a vocês.
Essa poesia é uma amostra da mulher verdadeira, independente, dinâmica e emancipada, que não tem medo de desafios, nem de enfrentar preconceitos. Linda!
Beijos!
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