Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

16.4.07

A REPÚBLICA DE D. MARIETA


Por
Jean Kleber

Ano de 1966. Eu seguia estudando em Recife e morava com alguns colegas em um aposento alugado. O lugar chamava-se República de D. Marieta. Ficava numa rua próxima à praça Maciel Pinheiro. Era uma rua estreita ao lado da Igreja da Boa Vista. Ficávamos no primeiro andar do prédio. Havia ainda mais dois ou três pavimentos ocupados por famílias cujos filhos da mesma nossa idade, eram nossos amigos. Não raros surgiam namoros entre jovens integrantes da república e as belas jovens da vizinhança.

O elenco da pensão era composto por jovens colegiais e executivos de classe média, em geral oriundos do interior de Pernambuco. Lembro-me bem, vários deles eram de Ouricurí. A valentia, o estoicismo, os freqüentes excessos alcoólicos nas festas e bailes, velhos conceitos sobre honra e lealdade eram os traços mais comuns do perfil da clientela. A comida era boa. Fazíamos lá mesmo nossas refeições. Eu comia à farta. Estava no céu...

Observando meus companheiros de república e analisando as suas narrativas épicas, eu estava certo de que Shakespeare poderia reeditar cem vezes Romeu e Julieta com jovens personagens brasileiros do nordeste. A famosa disputa entre os Montecchio e os Capuleto era por vezes revivida em muitas cidades do interior nordestino. Peixeiras e punhais em lugar de florins. Não levar desaforo para casa, não tolerar a mínima palavra ofensiva à própria mãe, tudo era motivo para iniciar-se uma briga, fosse nos bailes ou em algum intervalo de aulas na escola. Emergiam, contudo, em meio a tal atmosfera belicosa, sentimentos de divina inspiração, de modo aparentemente contraditório: lealdade, honestidade, solidariedade e sobretudo a valorização do trabalho.

D. Marieta era uma figura inesquecível. Negra, gorda e espiritualista, criava com extremo carinho uma menina adotada. Tinha uma personalidade forte, mas seus modos eram refinados. Conheci D. Marieta por intermédio de dois amigos. Um deles, o Luís, havia sido um ano antes meu companheiro de aposento, além do Tito de Alencar, na Casa dos Permanentes, um pensionato de Ação Católica que existia na Rua dos Coelhos, ao lado do Hospital Pedro II. Continuávamos companheiros de aposento, desta vez com mais dois integrantes, na casa de D. Marieta.

Uma noite, ao regressar da rua, não encontrei D. Marieta na sala de TV que lhe servia de quarto, nem sua auxiliar, a Carminha. Soube mais tarde que, naquela ocasião, elas estavam num Centro Espírita. No dia seguinte ao cumprimentá-la, D. Marieta comentou:
-Ontem à noite, senti muito sua falta, “seu” Kleber!
Diante de minha surpresa, esclareceu que na véspera, no centro espírita, havia “baixado” um espírito falando inglês.
-Pedi que chamassem o senhor mas o senhor não estava. Ainda acho que o senhor tinha como traduzir a fala daquele espírito!

Certo dia, um dos colegas teve a idéia de fazer um “pavê”. Aquele doce feito com biscoitos “champagne”, leite condensado e creme de leite. Todos comeram à farta. Pra mim o resultado foi um “baita” disenteria. Naqueles dias eu estava participando de um curso de extensão universitária em Biblioteconomia, na Universidade Rural de Pernambuco. Foi terrível. Os intervalos das aulas eu os passava no banheiro. Não havia remédio que parasse o fluxo.

Quando regressei à pensão pela noite, abatido, Luís comunicou o fato a D. Marieta. Depois de reclamar por ser “a última a saber”, disse que tinha a solução. Coletou na vizinhança folhas maduras de mamoeiro e fez um chá. Uma infusão. Aconselhou-me a beber uma chávena. A partir daquele momento não voltei ao banheiro por dois dias. Meu fascínio pela fitoterapia deve ter começado ali.
Grande D. Marieta!
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Jean Kleber de Abreu Mattos, cearense, nascido em Fortaleza, viveu em Ipueiras dos dois aos oito anos de idade. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco. Atualmente é professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

3 Comentários:

Blogger luizalpiano disse...

Não é possível esquecer tão lindos momentos da fase estudantil. Isso é um documentário. Guarde-o e releia-o sempre que sentir saudade D. Marieta e de Carminha.

16.4.07  
Anonymous Anônimo disse...

Oi Jean Kleber,
É muito bom pegar carona em seus relatos.Outro chá, que também é um "veda junta" de primeira é o chá feito com brotos de goiabeira, ou seja, as falhas novas.
Um abraço

17.4.07  
Blogger pereira disse...

Olá Jean Kleber,
Foi pesquisando sobre imagens da Boa Vista, que me deparei com o teu relato sobre "A REPÚBLICA DE DONA MARIETA" que por incrível que pareça sou a filha adotiva dela à qual aqui também mencionas, e muito me sinto lisonjeada por saber que depois de tantos anos ainda recordas momentos passados naquela República. Gostaria muito de poder entrar em contato contigo para falarmos coisas dessa ,que foi tua amiga e claro, minha querida Mãe. Meu e-mail para possível contato é: gpereira.rsilva@gmail.com
No aguardo de que possamos ainda nos contactar apesar desse relato ter sido em 2007 um grande abraço, Giselda Pereira.

16.6.09  

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