Por
Dalinha Catunda
Semana Santa, uma rápida passagem pelo Ceará, como não poderia deixar de ser, com destino a Ipueiras minha parada obrigatória.
Embora uma semana de poucas chuvas, o Ceará estava magnificamente vestido de verde, vendendo fartura e espalhando esperança. Nas feiras de Ipu e Ipueiras, tanto o feijão, como o milho verde, já davam o ar da graça, ainda caros, por ser começo de safra. Jerimum, maxixe, melancia, também se via com fartura nas feiras e conseqüentemente nas mesas.
Em Ipueiras o velho Jatobá escorria timidamente, sem forçar para carregar a sujeira que é depositada em seu leito. As grandes enchentes ainda não haviam chegado por lá. Contudo, o verde às suas margens não lhe tirava de todo o encanto. Os roçados estavam bonitos, segundo os agricultores, mesmo não sendo um inverno de grandes chuvas daria para criar os legumes.
Eu que sou encantada com a vegetação do Nordeste dediquei horas e horas à contemplação das plantas que aparecem ou rebrotam com as chuvas. O mata pasto, tomava conta dos campos, o mussambê todo florido enfeitava a paisagem, a salsa com suas ramas imensas cheia de flores orlava o açude e refletida no espelho d' água nos oferecia um espetáculo impressionante.
Chananas e jitiranas deixavam o chão florido num colorido que, dito, em nada se compara ao visto. Por diversas vezes amassei a folha do bamburral para sentir com mais intensidade aquele cheirinho gostoso. Como diz Jean Kleber: "O cheiro de nossa infância."
Durante o dia quero-quero, socó, bem-te-vi, lavandeira, campina, e até savacu campeavam em volta do açude. À noite eles davam lugar aos vaga-lumes que intermitentemente piscavam suas lanternas enquanto os sapos invadiam o ar numa cantoria sem fim.
Para não dizer que tudo estava às mil maravilhas, devo dizer que, muriçocas e potós também marcaram presença em alguns momentos dessa jornada, mas nada que comprometesse o brilho ou o sabor desse maravilhoso abril em Ipueiras, onde o canto do galo era meu despertador.
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – Poetisa e escritora.Nascida e criada em Ipueiras-CE, Maria de Lourdes Aragão Catunda, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É co-gestora convidada do blog Suaveolens.
2 Comentários:
Estou-me sentindo como se estivesse em Ipueiras. Um quadro dissertativo tão perfeito que aparecem o colorido da flores, os beija-flores, as borboletas e os legumes da safra. Parabéns, Dalinha!
Dalinha pousou mais uma vez em Ipueiras e dela recolheu elementos de pesquisa para nos dar intimidade com o fenômeno formidável que é esta cidade. Mais uma vez parabéns e obrigado, Dalinha.
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