Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

12.4.07

SAUDADE


POR
LUIZ ALPIANO VIANA

Dizem que saudade é tudo aquilo que ficou daquilo que não restou. Mas eu acho que saudade é o registro do passado, lembrança dos tempos que não voltam mais, dos primeiros passos de vida, dos erros e dos acertos que ficaram no passado.

Em Ipueiras vivi todas as fases de minha vida: infância, adolescência e adulta. Como posso esquecer dos lugares onde nasci, onde namorei, onde peralteei, dos banhos no rio Jatobá, das pescarias com um litro branco de fundo estufado para dentro! Meu rastro está gravado em volta da estação ferroviária, na calçada do Guarani e nas salas do Colégio Estadual Otacílio Mota.

Cada ipueirense tem uma história belíssima para contar! Quem não se lembra de Dona Diana dedilhando numa clave de dó maior, energizando o ambiente nas festas de Nossa Senhora da Conceição e nas missas dominicais! Quem não se lembra também de Prêta, mulher do pipoco, dos dribles desconcertantes de Paiaz, da locução de Casca, do Zeca Bento na calçada do cartório, gritando pelo Tadeu! Ah Ipueiras, de ti nunca me esquecerei! Onde quer que esteja um filho teu, honra te prestará com disposição e orgulho. Teus filhos, netos e bisnetos, que brincam com as letras, sabem conjugar muito bem o verbo enaltecer.

Os que são cultos te dedicam livros, crônicas e poesias. E eu, o menor dos menores, ofereço-te este texto, não no estilo jornalístico e acadêmico dos que constantemente te escrevem, mas com a verdadeira correção gramatical do amor, da gratidão e da humildade. Eu também quero escrever-te poemas nem que sejam de versos monossilábicos. E quando eu os fizer não me envergonharei dos erros de gramática.

Aquele que já viu o sol nascer por traz do morro do Cristo e se aninhar na serra da Ibiapaba, tem nas veias o sangue de uma tribo que, como eu espezinhando a língua de Camões, habituou-se a escrever sobre sua cidade.

Assisti à derrubada das carnaúbas do centro da cidade. Vi Jeremias clamar para elas permanecerem de pé, mas o progresso falou mais alto e o machado impiedosamente venceu. À noite, na Rádio Vale do Jatobá, Jeremias lia uma crônica que dava por encerrada a época dos meninos que cavalgavam num talo de carnaúba. Como ele, eu também cavalguei num alazão, um ginete por todos admirado, com uma calda bem cuidada, ao estilo manga larga.

A cidade cresceu e com ela também, seus filhos. Muitos tiveram de sair em busca de melhores dias, outros ficaram, onde ainda estão até hoje. Mesmo morando distante, o ipueirense volta de vez em quando para participar da festa de Nossa Senhora da Conceição. A banda de música no patamar da igreja e a batida do sino pelo Antônio Jardilino, nas manhãs de domingo, convidando a comunidade para a Santa Missa, dá-nos um aperto no peito e a saudade faz-nos recordar memoráveis momentos, principalmente do primeiro beijo na primeira namorada.

Um homem raquítico, vestido de terno, gravata, chapéu de massa, sapatos pretos, caminha à noite, a passos lentos, na calçada da Praça Padre Angelim de frente à Igreja Matriz. Ele cantarola uma canção que eu não conhecia. Certamente uma de sucesso de sua época... Dario Catunda, meu mestre de língua portuguesa, não foge à regra, é um exemplo ímpar de cultura e de cidadania. Falar desse homem é preciso conhecê-lo bem, pois se trata de um ser humano do mais alto nível espiritual e humanitário. São coisas desse tipo das quais o povo de Ipueiras tanto se orgulha. Honro-me por ser conterrâneo de Costa Matos, Gerardo Mello Mourão, Frota Neto, Boré, Heládio, Major Sebastião, Tim Mourão e tantos outros.

Eu te amo muito, Ipueiras! Teu sol é mais frio e aconchegante, tua brisa tem cheiro de mato verde, perfume natural da serra da Ibiapaba. Teu povo, como sempre hospitaleiro e cavalheiro, tem o coração cheio de amor e paz para dar. Fica em paz sob a proteção do Cristo Redentor, e dorme tranqüila à margem do Jatobá. Tu serás para sempre, Ipueiras, minha eterna e querida namorada!

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Luiz Alpiano Viana, nascido e criado em Ipueiras, morou mais tarde em Crateús. Atualmente é funcionário aposentado do Banco do Brasil e mora da cidade de Sobradinho, no Distrito Federal.

4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Alpiano,
Que belo relato!!! há pessoas que carregam Ipueiras na cabeça e outras no coração. Acho que você faz parte de segundo time.
É um prazer grande tê-lo como companheiro de blog
Um abraço carinhoso,
Dalinha

12.4.07  
Blogger Os Recantos de Tereza disse...

Alpiano,
Dalinha tem razão, vc faz parte das pessoas que residiram em ipueiras, e mesmo estando longe nunca esqueceu sua terra, sua gente e as coisas belas que viveu por lá. Isto demonstra muito bem nesta sua crônica. Você está enriquecendo o blog do Jean Kleber e eu fico feliz por ter promovido este encontro de conterrâneos mesmo no virtual.
Forte abraço
Tereza Mourão

12.4.07  
Blogger Jean Kleber disse...

Luiz Alpiano, esta foi sua bem sucedida estréia no blog. SAUDADE é uma crônica sincera, tocante e bem escrita que enaltece a cidade berço de nossa infância, e seus vultos inesquecíveis. Alguns ainda vivos.Parabéns !

14.4.07  
Blogger Claudivino disse...

Moro no interior de Goiás, cá no sul, bem pertinho das Minas Gerais, mas tenho uma enorme simpatia por Ipueiras. Isso tem fundamento na amizade que tenho por um senhor daquela terra. Ele, pessoa simples, pedreiro da contrução de Brasília, deixou a cidade em 1960 e veio para estas bandas, onde se estabeleceu. Agora, já na terceira idade, saudoso de informações das pessoas que deixou por lá, visitamos de tempos em tempos os registros da grande rede, vemos e revemos fotos, ouvindo a rádio macambira pelo computador. Assim, antes as diversas semelhanças e coincidências que pessoalmente vi entre Ipueiras e Goiatuba, passe a apreciar e me deixei contaminar pela nostalgia de suas histórias. Parece até que sinto saudades. Se alguém se dispuser a ajudar a obter informações sobre as pessoas dos familiares e amigos do Sr. José Vieira de Souza, conhecido na época como Zé Paulo, filho de Paulo Vieira de Carvalho e Francisca Fernandes de Souza, irmão de Maria, Gonçala, Maria das Graças e Francisco, entre outros, e amigo de Vicente Madeiros de Carvalho. De quebra, visitem minha querida cidade de Goiatuba. Abraços. cpgoiatuba@ig.com.br.

2.7.08  

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