ROSA APAVORADA
Dalinha Catunda
Foi lá pelo Pai Mané,
Que esse caso se deu.
Valdenira me contou
Como tudo aconteceu.
De boca em boca esse caso,
Por muito tempo correu.
Assim ela me contou
E assim vou lhes contar,
A história de uma rosa,
Em pleno desabrochar,
Que obedecendo a seu pai,
Foi obrigada a casar.
Rosa menina moça,
Ainda flor em botão,
Não havia despertado
Pras coisas do coração.
Não entendia de amor,
Muito menos de paixão.
Seu pai, velho vivido,
Começou a matutar:
Rosa ta bem taluda,
É hora de se casar.
Sem perca de tempo vou,
Um genrinho procurar.
Pois era assim que se dava,
Pras bandas do meu sertão.
O noivo, o pai arranjava,
A noiva querendo ou não.
Empenhado saiu o velho,
Pra cumprir sua missão.
Pensou em filhos de compadres,
De parentes e de amigos.
Encilhou o seu cavalo,
Foi a cata de um marido,
E só sossegou o facho,
Quando fez o prometido.
Rosa foi informada,
Pelo seu pai protetor,
Que lhe arranjara um marido,
E submissa aceitou.
É assim que o senhor quer,
Eu aceito sim senhor.
Começaram a trabalhar
No pequeno enxoval.
Não demorou muito tempo,
Estava pronto afinal.
Pra ser enxoval de pobre,
Até que não estava mal.
Vestido de noiva pronto,
O foguetório comprado,
E o dia do casamento,
Devidamente marcado.
O povo da vizinhança,
Tava todo convidado.
Só que Rosa coitadinha,
Não tinha tido o prazer,
De conhecer o rapaz,
Que com ela ia viver.
Só restava à pobre Rosa,
Na verdade obedecer.
Não sei se pra sua alegria,
Não sei se pro seu tormento,
Só conheceu o sujeito
No dia do casamento.
Entre vivas e aplausos
Fizeram o juramento.
Foi casamento no padre,
Casamento no juiz.
Juntou família e amigos,
E todo mundo feliz.
Comida tinha pra todos,
Não se fartou quem não quis.
Depois do: viva os noivos,
Dos foguetes e cantoria,
O povo voltou pra casa,
E o noivo era só alegria.
Pois sabia o que lhe esperava,
Só Rosinha não sabia.
Rosa botou uma camisola,
Inocente pra dormir.
Nem desconfiava mesmo,
Do que estava por vir.
E até mesmo por isso,
Esperava o noivo a sorrir.
De repente apareceu,
Para sua assombração,
O já marido pelado,
Com os documentos na mão
Rosa desesperada,
Ganhou a escuridão.
Ela correu feito louca,
Pegou o caminho do mato,
Não teve cristão no mundo
Que descobrisse seu rastro.
E o pobre marido acuado,
Virou jumento sem pasto.
Chegou à casa da mãe,
No outro dia bem cedo.
A velha vendo a esparrela,
Lhe disse não tenha medo.
Eu esqueci de lhe contar,
Desta história o enredo.
Assim se deu com você,
Comigo, não foi diferente,
Depois que o negócio encaixa,
Até que faz bem a gente,
Além de deixar o marido,
Bem feliz e bem contente.
Rosa bem mais animada,
Rumou pra sua festança,
Depois de ouvir de quem sabe,
Como se faz uma criança.
Na casa de Rosa agora,
A rede veia não cansa.
A chave do seu marido,
Deu certo em sua fechadura,
Rosa mulher parideira
Teve filhos com fartura.
E via no esposo arranjado,
A melhor das criaturas.
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4 Comentários:
Dalinha, essa história é idêntica a de minha mãe! O casamento dela foi assim sem tirar e sem botar um franisco!
Que legal Alpiano!!!
Tudo que eu queria era falar de coisas de minha cidade, mas queria ter uma resposta. Pois, não são histórias inventadas, são papos de alpendre e calçadas, que logicamente dou meu Tom.
Valeu mesmo. Estou escrevendo este cordel pela Academia Brasileira De Cordel, aqui no Rio de Janeiro.
Dalinha, achei oportuno, até porque o tema era rosa,publicar o cordel. Foi ótimo! Contribuições assim enriquecem e movimentam o blog. Parabéns.
Dalinha, gostei do Cordel, acredito que naquela época não só em Ipueiras como em varias cidades interioranas, existiram Rosas como
esta. Parabens mais uma vez, vc é 10.
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