MEU CORRUPIÃO VERMELHO
Bérgson Frota
Toda criança que viveu uma parte de sua infância no interior já criou um pássaro e por ele se afeiçoou.
Também eu a imitar meu pai, criador de canários, tive o meu.
Era um corrupião vermelho, essa esplendida ave da biodiversidade de nossa caatinga, também conhecida por sofrê, nome que eu nunca soube o significado.
Ficava eu a esperar o fim da aula para correr e ver meu pássaro na gaiola da nossa cozinha. O corrupião tem a coloração laranja-vivo, bico preto e íris amarelo-limão, na caatinga costuma ainda hoje a se destacar entre as muitas aves canoras.
Vive em bandos familiares e alimenta-se de flores do ipê amarelo, insetos e frutos diversos, como o do mandacaru.
Saindo desta descrição, confesso que para uma criança um pássaro tomava todo o tempo, mas cheios de cuidados que era um prazer de se exercer.
Sendo um dos poucos pássaros que consegue imitar o som de outras aves, tinha ele, lembro, um excelente canto.
Sua capacidade de reprodução de sons é tão intensa que ele consegue treinado cantar até notas próximas do hino nacional brasileiro.
Aquela ave para mim despertava muita alegria, como disse, seus sons eram de uma beleza sem igual.
Depois de seis meses na gaiola, começou a tornar-se amarelo, fiquei preocupado, meu pai porém, grande conhecedor de pássaros, falou-me não ser nada, a mudança da cor era devido à falta de insetos suprimido por mim, e essencial na sua dieta quando livre.
Pensei muito depois de saber disso, passou-se uma semana e um dia levantei-me e levei cedinho, num ensolarado domingo a gaiola até a beira do rio, e lá com tristeza, soltei minha ave.
Que tivesse sua liberdade, que fosse cantar livre na caatinga, e que principalmente se vestisse novamente de sua bela roupagem.
Em casa ao ver-me entrar com a gaiola vazia meu pai entendeu, e para conformar-me prometeu-me um gola-estrela, que não demorei a ganhar, mas isto é outra história.
Naquele dia triste pela ausência do belo canto, conformei-me. Pelo menos agora ele tinha a liberdade, os insetos e logo teria a plumagem bela, a qual muito me encantou ao vê-lo pela primeira vez, no dia feliz em que lhe ganhei.
Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.
6 Comentários:
Parabéns pela crônica e as informações, como sempre a nos trazer um texto direto e rico.
Parabéns por esse exemplo de humanidade, as aves de fato merecem ganhar os céus e embelezar a natureza não numa gaiola, mas em ninhos, lagoas e rios.
Lindo artigo sobre a liberdade das aves, luto com esforço para vê-las livre sempre quando posso. Chorei ao imaginar ainda criança vê-lo soltando a avezinha.Parabéns pelo seu gesto, parabéns pelo artigo.
Aí esta! Mais uma jóia cultural. O corrupião é um pássaro brasileiro de grande beleza e que nos encanta desde criança.Parabéns professor Bérgson.
Acho um dos passáros mais lindos de nossa fauna,uma crônica encantadona.
"Guri", eu não te conheço. Mas com toda certeza tchê, senti tua dor nesse relato.
Um grande abraço.
maiquel.fleck@yahoo.com.br
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