SÚPLICA DE UM RIO
Quando nasci já faz tanto tempo, que nem lembro mais. Tudo às minhas márgens era verde. Cheias de matas altas e árvores troncosas que arriavam os braços para molhar-se na minha água barrenta e rápida. Enquanto seus outros galhos mais altos balançavam-se ao sabor do vento constante.
Descia eu orgulhoso refletindo a luz do sol ou da lua quando esta aparecia. Serpenteando naquela terra só minha, fazendo várias coroas e redemoinhos, levando troncos.
Tudo era meu, tudo era eu.
Quando caía a chuva, e milhões de pingos desciam no meu leito, eu levantava meu nível e entrava no canavial fazendo ser uma parte verde de meu leito. Deixando quando saía uma lodosa terra.
Então vieram os homens, e lá na parte mais alta, construíram uma ponte que de tanto tentar, demorei mas acabei por levar.
Deram-me como punição duas novas pontes, altas, fortes e de muita base.
Mostraram sua força tirando terra e mais terra do meu leito. Cavando inúmeras cacimbas que mais pareciam crateras.
Jogaram nas minhas margens lixo, desviaram para mim esgotos, e finalmente de tanto me açorearem mudei, e com isso modifiquei todo o terreno próximo.
Perdi as árvores companheiras de margem e o pouco da vegetação nativa quer havia sobrado.
Já seco e desesperado eu, um rio, peço cá meu último pedido.
Permitam-me uma fonte perene de água, criem nas minhas nascentes açudes que me garantam água o ano todo, deixem que ela corra livre novamente pelo meu caminho, essa foi a única coisa que sempre desejei.
De um rio que agoniza.
Assina Jatobá,
Ipueiras-CE
Publicado no O Povo -Fortaleza-Ce, em 30.01.2010
12 Comentários:
Primeira crônica de 2010. Bérgson Frota chega com um tema atualíssimo, a ecologia, configurado no querido rio da sua infância. Desfrutem.
Prabéns meu fofo, este seu trabalho é lindo.
Parabéns pela crônica amigo, uma boa mátéria para se abrir o ano.
Em tempos ecológicos vale o apelo.
Olá Jean, Olá Bérgson,
Eu gosto sempre de falar da beleza dos rios mas reconheço que hoje é preciso alertar sobre a poluição,
sobre a retirada de areia que aos poucos vai matando nossos rios e o desmatamento das margens.
Bérgson está de parabéns pelo alerta e junto-me a ele neste protesto.
Algum tempo fiz também o meu protesto.
Jatobá Pede Socorro
Eu sou um pobre Rio,
Chamado Jatobá.
Aquele, que na infância,
Costumava lhe banhar.
Veja o meu estado.
Repare como estou.
Com águas tão poluídas,
Perdi o meu esplendor.
Já fui um dia um rio,
De águas claras e transparentes,
Onde peixes de muitas espécies,
Nadavam alegremente.
Já matei a fome de muitos,
Que pescavam em meu leito.
Acho que em minha vida,
Sempre fui um bom sujeito.
Já fui água corrente.
Também água de cacimba.
Por tudo que fui um dia,
Mereço uma melhor sina.
Preservem as minhas margens,
Para que eu possa viver contente.
Com poluição e desmatamento,
Serei apenas um rio doente.
Dalinha Catunda
Parabéns, vamos salvar o Jatobá
valeu vamos encher o jatobá de água pura.
Obrigado pelo seu valioso comentário, sobre sua poesia é de extrema sensibilidade e verdadeira preocupação com o nosso rio.Estou-lhe grato.
Parabéns pelo lúcido artigo Os Órfãos da Idade, gostaria de ter um contato maior com você pois minha monografia trata deste tema.
Parabéns pelo lúcido artigo Os Órfãos da Idade, gostaria de ter um contato maior com você pois minha monografia trata deste tema.
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meu nome é
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