A GRAVATA E O PROFESSOR
Um só telefonema a destoar: Parabéns, hoje é nosso dia – rejubila-se uma colega. Por instantes, fico a pensar na farisaica convivência, em nossa sociedade entre retórica e realidade, quando o tema é o professor.
Ator importante, nesta “era do conhecimento”. Afinal, a economia (todo repetem) não mais se gera na fazenda, na indústria ou nos bancos, mas na escola. E a inclusão social não se opera a não ser pela escolaridade, única via para a distribuição da renda.
Essa retórica, contudo, não chegou à contabilidade, que não tem formas de escriturar a “propriedade intelectual”. Enquante isso, os professores, nas filas dos crediários e dos bancos, continuam a amargar mil vergonhas.
Róseos tempos já tivemos. Foi quando a música popular e a literatura decantavam a normalista. Ou quando os professores do velho Liceu do Ceará ostentavam vencimentos iguais a nossos desembargadores.
Uma repórter me desperta dos sonhos nostálgicos. Ela quer invadir-me a intimidade dos contracheques. Em pauta, os ditos “supersalários” da Universidade Federal do Ceará (UFC), requentados sob piada de revista nacional.
Em casa, à noite, ouço com orgulho o filho Leonardo, com sua Banda Matutaia, após apresentação no “Ceará Music”, construindo castelos da fama por vir, na contramão da via do pai.
Ante o espelho, vejo-me ao peito não medalhas nem gravatas. Apenas cicatrizes de um peito dilacerado. Marcas em mim deixadas pela vida. Sinais de marcas outras que deixei nos alunos. No peito, decerto, a honra e o respeito. E isso me basta.
Tal qual César, ouso afirmar: “Vim, vi, venci”.
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2 Comentários:
Comemorando o dia do Professor, com um artigo primoroso do mestre Marcondes rosa de Sousa. Desfrutem.
Um artigo primoroso que nos faz pensar com mais lucidez sobre o professor, seu trabalho e seu dia. Parabéns.
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