IPUEIRAS ANTES, LAGOAS E CARNAUBAL
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No seu abalizado trabalho "Os Três Grandes Capitães da Antigüidade", César Zama diz no prefácio que ninguém pode fazer História sem recorrer mais aos mortos do que aos vivos. Fazemos nosso o pensamento de Zama, nesta modesta síntese sobre as nascentes telúricas de Ipueiras, com o criterioso e seguro testemunho do saudoso historiador Hugo Catunda, que catalogava com minúcias datas, fatos, fastos e eventos que dissessem dos primeiros passos do nosso torrão. Por isso é no que vamos nos louvar.
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Ipueiras é rodeada por uma cadeia de morros e serrotes com a perfeita forma de uma ferradura, assim distribuída : inicia-se no leste com o "Morro do Açude", seguido pelo dos "Frios", "Saquinho" (o mais alto de todos) e o do Cristo, onde se assenta a estátua do Redentor.No fundo, poente, distante cinco a seis quilômetros já se demora a serra da Ibiapaba, que vem ladeada a curta distância para o nascente pelos serrotes "Mandú", "São Roque" e "Lamarão".
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A cidade cujo nome tupi-guarani significa água-presa, estagnada, etc., reflete bem o que foi num passado bem distante.O professor Hugo Catunda, ouvindo os mais idosos, situava nesse espaço que falamos acima com o traçado de uma ferradura a localização de um imenso carnaubal, frondado às margens de quatro lagoas, com as seguintes localizações : lagoa grande no pé do hoje chamado "Morro do Açude", açude mais tarde feito pelo braço escravo na seca dos três setes (1777) , tornado público e agora reformado e aumentado pela edilidade.
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No bairro "Vamos-Ver", terras da família Tavares, a segunda lagoa. Bairro da Estação Ferroviária, a terceira, imprensada entre a ferrovia e o espaço onde hoje se situa o Campo de Aviação, e finalmente a quarta, a segunda em tamanho, nas Carnaúbas (bairro), paralela aos trilhos, estendendo-se na extensão das barrancas do rio Jatobá.
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Cercando e confundindo-se com esse aglomerado de lagoas, um exuberante carnaubal que deveria dar à paisagem, além de um bucólico panorama, formava com as copas de um verde-gaio um alto tapete onde o cântico das graúnas misturava-se com o bater das asas das brancas garças pairando sobre as águas, num belo espetáculo da natureza.Reportando-nos a esse antigo carnaubal que ocupava talvez 90% das terras da hoje cidade de Ipueiras, criminosamente, sem qualquer critério preservativo, vários prefeitos na década de 30 ceifaram impiedosamente a quase totalidade dessas esbeltas árvores de porte tão elegante quanto festivo, no farfalhar dos leques e das palhas.
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Ainda nos louvando em Hugo Catunda, presume-se que uma das moradas do temido "caudilho" sertanejo Manuel Martins Chaves (de quem descendia minha avó paterna Luiza Chaves de Almeida), dentro das terras das Ipueiras, ficaria no primeiro topo do "Morro dos Frios", que daria uma visão perfeita do quadro de sua propriedade no local, divisando todo horizonte. No topo acima referido, a que chamavam "alto da bela vista", anos depois, num pequeno casebre, morou um ex-escravo de nome Vicente Balbino Arroz, avô paterno do velho José Arroz que morreu com 102 anos e dizia ser seu avô filho de "Maria Pereira", hoje Mombaça, tendo aqui chegado tangidos pelas secas. Contava aos coevos que a morada era mal-assombrada, mas nunca deu detalhes desses fatos.
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Fácil imaginar-se que Manuel Martins Chaves poderia ter perfeitamente uma residência no perímetro já descrito e a outra, certamente a grande, a da "Fazenda Ipueiras" propriamente dita, pela sua importância e maior segurança, nas terras do "Engenho", compreendidas entre os lugares "Vidéo" e "Riacho da Cupira", imóvel herdado do seu genitor capitão-mor José de Araújo Chaves (Nertan Macedo, in "Floro Bartolomeu, o Caudilho dos Beatos e Cangaceiros", pg. 21, 2ª edição, 1986.). Manuel Martins Chaves permaneceu morando nesta casa até sua prisão em 1806. Descreve-se, assim, sem outras pretensões, a terra, o chão, o barro, o húmus da florescente Ipueiras dos nossos dias, ficando o seu povo, que é o nosso e a sua gente que somos nós, para a rica História da posteridade.
(Foto : picasaweb.google.com)
JEREMIAS CATUNDA MALAQUIAS. Ipueirense poeta, escritor, esportista, intelectual. Hoje octogenário, permanece sendo uma das maiores referências da intelectualidade ipueirense. Jeremias é pai do escritor e pesquisador Bérgson Frota, destacado membro da equipe de colaboradores deste blog.
4 Comentários:
Sinto-me honrado em publicar este texto do escritor e poeta ipueirense Jaremias Catunda Malaquias. Conheci-o na minha infância como amigo e correligionário de meu pai. Intelectual, esportista e ótimo caráter, Jeremias sempre mereceu nosso respeito e amizade. Seja bem vindo,amigo.
Jean Kleber,
Sou uma leitora das crônicas e poemas de Jeremias Catunda. Ipueiras é muito bem apresentada a nós todos, no escrever competente, desse ipueirense que retrata como ninguém nossa cidade.
dalinha Catunda
ipueiras é bem benéficiada por pessoas assim como jeremias catunda e muitos,como Dalinha aragão e jean kleber.... pois quem nâo é o q eles são, apenas admirão o q eles são!!!!!tenho orgulho de ser de ipueiras!!!!.... francisco flávio moreira soares junior "filho de fransquinha e flávio moreira"
Gostaria de Parabenizar a vc Jean Kleber pelas publicações no blog... confesso q desconhecia, e hj em uma disciplina d faculdade, e realizando pesquisas, passei a apreciar essa sua inciativa em publicar a História de Ipueiras. Parabéns pela iniciativa... Sucesso sempre,
Abç, Erlândia
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