ONDE NASCE O RIO JATOBÁ
Bérgson Frota
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No livro Terra dos Clones e outras estórias o escritor ipueirense Frota Neto inicia o conto Mariazinha do Poço, assim escrevendo: “O Jatobá é um rio de areia que só se enche d´água uma vez, no inverno, e quando enche, de ano em ano. Ele não banha, corta Macambira ...”, nome fictício este, com o qual o escritor se refere à Ipueiras.
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Em Versos versus minha Vontade, livro poético de Jeremias Catunda se lê no trabalho “Minha Terra”, precisamente na segunda quadra : “Charmoso corre o velho Jatobá ... / Sereno às vezes, às vezes violento / Como se Tritão raivoso, ciumento, /A ninguém mais deixasse se banhar.”
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Tanta importância ao tão citado rio talvez se dê pelo fato único deste nascer em Ipueiras, precisamente no coração do município. .
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Os dois trechos sobre o rio Jatobá mostram o quanto o rio ipueirense, embora passe mais tempo seco do que cheio, visto ser sazonal, toca com profundidade a verve poética e a prosa dos filhos da terra.
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Quando o rio do Engenho, barrento, revolto, vindo dos sertões e várzeas cruza a ponte que leva ao bairro Vamos-Ver, junta-se a um outro, o rio Pai Mané, de águas límpidas e ácidas vindas da azulada Ibiapaba.
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É desta união que surge o Jatobá, descendo então com águas mornas e barulhentas às vezes barrentas outras silenciosas e cristalinas. .
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Fazendo um trajeto sinuoso corta a ponte do Idálio e desce trazendo nas primeiras levas de chuva, bolas de juá, fruta lodosa e farta, misturada a mutambas negras que vão se espairar nas areientas e outras vezes barrentas margens das Crôas e das terras do Lamarão quando mais embaixo chega.
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Serpenteando pelo município o rio mais além de que antes entrava no Acaraú, quando cheio hoje já deságua no açude Araras, marcando neste trajeto em épocas invernosas as rotas de piaus e curimatãns carregadas de ovas, prateadas branquinhas que rio acima se lançam em direção às cabeceiras do mesmo.
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Assim é o Jatobá, o rio de Ipueiras. Seco na maior parte do ano, mas quando cheio, um espetáculo borbulhante e roncador, fazendo grandes redemoinhos no seu “desfilar” como se nesse percurso afirmasse com mais força seu renascimento a cada nova estação chuvosa.
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(Publicado no jornal O Povo em 16.08.2006)
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*A foto pertence ao acervo do autor. Mostra o rio Jatobá em plena cheia. Ao fundo, o Morro do Cristo.
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11 Comentários:
Mais uma contribuição do escritor e pesquisador Bérgson Frota,desta vez sobre o nosso querido rio Jatobá. Nossos agradecimentos ao autor.
Um belo artigo, que o inverno traga vida nova ao nosso povo. Salve o rio Jatobá !
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Bérgson, excluí quatro comentários SPAM, em inglês, de origem desconhecida e portadores de vírus.
Trabalho oportuno de ser revisto e lido. No tempo de inverno as cheias do Jatobá me dão saudades. Parabéns velho brother.
salve rio Jatobá!
Lamentavelmente o Rio está destruído, assoreado, muita construção irregular inclusive obra do poder público. O que fazer.
O rio Jatobá é o rio das minhas saudades, fiz sua travessia no verdor de minha infância na lua da cela do vaqueiro Mariano, tangendo um boiada de cerca de cinquenta animais com destino à fazenda papagaio propriedade de meu pai. Quando volto a te ver rio da minha vida, que um dia me assustou tamanho era a sua força. Anastácio Pedro de Melo Lima cel. 79-996-631161.
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