Por
Luiz Alpiano Viana
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A casa de Artur é uma choupana de palha de carnaúba que fica no alto de uma montanha de onde se vê, em todas as direções, um cenário que é um sonho. É um quadro de encher os olhos, cuja beleza não tem as cores pintadas pelos humanos! O lugar é um presente da própria natureza a pouquíssimas pessoas neste mundo.
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De lá ele tem uma visão privilegiada para ver um admirável quadro verde que tem a maciez de um tapete persa que a mão de Deus teceu. O vento açoita fortemente a copa das gigantescas árvores que gemem como um faminto filhote de urso abandonado.
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Para comemorar o nascimento de Cristo, Artur construiu em sua humilde residência um lindo presépio, utilizando galhos secos encontrados na serrania. Nessa mesma época os ricos compram lindos presepes já montados com fina tecnologia do século. Ele sabe que sua própria casa é um presépio original. Mas o presépio dos ricos não vai tirar o brilho da confraternização natalina que todos os anos sua casa sedia.
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A família se reúne orgulhosamente para a festa de Natal como se tivesse feito o mais lindo e rico presépio do mundo. O Divino Espírito Santo é representado por uma pedrinha que tem a aparência de uma criança recém nascida, encontrada por sua filha no riacho das Antas quando peralteava como uma nativa ao ar livre da montanha; os Reis Magos são três coquinhos babaçus, sendo um deles mais escuro que o outro a que Izaura chama de Baltazar; Maria é uma boneca de cabelos longos e olhos claros, trazida por um visitante quando fazia trilha e montanhismo logo que aqui chegara Artur, há mais de dez anos; de um ninho abandonado no alto de uma centenária oiticica, que ensombra os canteiros de hortaliças, fez a manjedoura e nela, com requinte de pobreza e simplicidade, pôs o Menino, aquele que tirou os pecados do mundo.
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As visitas ao Menino se sucedem dia e noite por moradores da região que ainda acreditam que o amor está no coração de todas as pessoas, sejam elas ricas, pobres, pretas ou brancas. Pela manhã a família forma um círculo em volta da Lapinha para adorar, de joelhos e mãos postas, a Criança que sem os petrechos da vida moderna descansa sob os cuidados de Maria Santíssima. Do outro lado da sala, num biongo rústico de porta fechada por uma tanga, sua mulher amamenta o mais novo filho que nasceu neste Natal. Ela imita, com gestos e carinho de mãe, os mesmos cuidados que Jesus está tendo por Nossa Senhora.
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Como seu marido, ela descobriu que sua casa é, na verdade, um presépio que não tem móveis, cama e máquina de lavar, mas tem uma criancinha que é a imagem e a semelhança de Cristo. No coração do casal tem muito amor, é uma coisa divina que deveria acontecer com todos os seres humanos. Eles cuidam dos filhos com a mesma dedicação de Maria e José.
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Se houver a continuação da instituição família, onde se ensinam todos os gestos de amor e respeito às pessoas, haverá no futuro, filhos amáveis, dedicados, respeitosos e tementes a Deus. O Criador promove o lar onde se prega o amor ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Lembrar-nos-emos de que quando festejamos a vinda de Jesus estamos consagrando o amor á família e harmonia entre os povos. Se quisermos teremos uma sociedade isenta de ódio e abundante em ações nobres.
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Nossa casa tem que ser um santuário que sirva como exemplo, que acolha o transeunte cansado e faminto, que nas noites de frio agasalhe. A família é também o farol de referência para os que navegam sem bússola. Não deixemos que somente nessa época do ano a palavra de Deus se torne o equilíbrio da humanidade.
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O presépio improvisado por Artur simboliza a união de todos. Eis o grande mistério da vida: há lares que não têm comida; há famílias que têm filhos, que têm filho e não têm pais; que não têm amor nem esperança. Pessoas sem perspectiva de uma vida digna estão por toda parte. Outras moram em luxuosas habitações e não são felizes; e algumas, como a de Artur, que moram em casebres no alto de um morro ou numa das favelas dos rios de janeiros, vivem felizes.
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As coisas de Deus nos encantam tanto que nos deixam emocionados. Vale a pena sentir esse estado de emoção. E quando sentimos essa paz dentro de nós as lágrimas de alegria e felicidade inundam nossa face. Esperamos renovar nesse Natal os mais profundos sentimentos de amor e respeito por tudo que existe. É imperativo que as pessoas usem da simplicidade de Artur como modelo de libertação. Do presépio construído no coração de cada um de nós tiramos lições de fraternidade. A paz de espírito que a data simboliza traz a certeza de que Deus nos ama muito. E por que não O amemos também!
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FELIZ NATAL!
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Luiz Alpiano Viana, nascido e criado em Ipueiras, morou mais tarde em Crateús. Atualmente é funcionário aposentado do Banco do Brasil. Morou no Distrito Federal até meados de 2007 quando finalmente voltou a morar no Ceará, em Fortaleza.
6 Comentários:
Baixou o espírito de Natal no blog Suaveolens! Os colaboradores estão entrando no clima. Primeiro foi Dalinha com "Carta a Papai Noel". Agora, Luiz Alpiano com "A Casa de Artur". Muito sentimento e muita sensibilidade. Belos contos e crônicas próprios para a época. Parabéns.
Este é um texto poético e agradável, além de ser um hino de exaltação à família. Parabéns ao autor pela sensibilidade.
Alpiano,
É muito bom dividir esse espaço com mais um ipueirense que nos emociona com seus textos. Tenho lido atentamente seus relatos e gosto dessa sua critica construtiva em prol dos menos favorecidos.
Um abraço,
Dalinha Catunda
"Tanto amor para amar de que a gente nem sabe.."
Teu coração abriu a porta para Jesus, a sensibilidade de tua descrição o revela.
O Reino de Deus está dentro de cada coração e lar que O acolhe com gratidão.
Parabéns!
Meu amor,não me canso de ler esse seu texto.Como bem o conheço tudo que vc escreve vem carregado de emoção!!Mais uma vez parabéns.Aguardo a publicação dos próximos com anciedade!!Não demora em publicar!!beijos
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