Por Luiz Alpiano Viana
Estive lá, revi velhos amigos e conheci um Calçadão construído pela Prefeitura com os mesmos materiais do da Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro. As mesmas pedrinhas, pretas, brancas e marrons. Para o bom observador, o desenho do calçadão tem a mesma curvatura da Praia de Copacabana.
Aproveitei a noite silenciosa e o cochicho dos casais que namoravam nos bancos do passeio e fiz minha caminhada noturna desde o sangradouro do velho açude até o posto de gasolina. O ambiente tem a feição de uma incipiente favela porque os bairros de periferias em qualquer cidade do Brasil não têm infra-estrutura. Esses benefícios só aparecem com o advento de famílias ricas.
Os governos municipal, estadual e federal sempre ignoraram os descamisados, os miseráveis, os sem tetos, os sem letras. Esse é o comportamento dos nossos governantes, procedimento comum em qualquer país do mundo. Há algumas casas antigas que nos fazem voltar ao passado de 40 anos. O prédio da cadeia pública é um desses monumentos.
Mais ou menos no lugar onde está sendo construída uma igreja, havia uma casa e nela morou o professor Antônio Simões, ex-aluno de Academia Militar das Agulhas Negras - AMAN. Um pouco acima se ergue o Instituto Frota Neto. É uma corporação literária que oferece ao cidadão um espaço apropriado ao exercício do conhecimento e de culturas. Reforça, por conseguinte, o interesse dos jovens pelo saber e pela convivência nos meios literários onde quer que estejam.
Avistam-se, em diversos ângulos, modernas moradias recém construídas, um verdadeiro contraste com os casebres do mesmo local. Sem dúvida esse simples morador cederá espaço aos mais aquinhoados e mais uma vez buscará lugar adequado às suas condições financeiras. Formar-se-á entrementes nova periferia e mais uma vez sem infra-estrutura. O próprio homem transforma o meio em que vive e arregimenta responsabilidade do baixo e do alto desenvolvimento. O que era periferia passou a ser área nobre. Isso é bom, porém melhor seria se houvesse um programa de distribuição de renda humanizado.
Diz Plínio Salgado em uma de suas obras: "a cidade tem vida, é dinâmica, socialmente executiva e abrangente, cuida para que as transformações sociais sejam um bem comum".
Quase imperceptível, o crescimento físico da cidade se descortina para o norte, sul, leste e oeste como um invasor indomável. O povo exterioriza com ações suas aspirações que se consubstanciam no imperativo da modernidade, evidenciada pelos interesses comuns.
No bairro do Vamos Ver pude reviver um passado de 45 anos. Parecia um filme! Vendo os locais por onde andei, senti-me como antigamente, de short, descalço e magérrimo, correndo atrás de uma bola em direção ao gol. Que tormento! Machuquei-me de vontade, sorri desvencilhando-me do adulto que mora dentro de mim que não quer ver a velhice em confronto com o passado, muito menos com o presente. Foi ali que passei dias de ouro.
O campo de futebol, onde se jogava uma peladinha, desapareceu e no local nasceram novas residências e conseqüentemente novas famílias, novos jovens e novas esperanças. Custa-me acreditar que se contavam, sem dificuldade, os moradores e as casas. Ruas e ruas dispostamente organizadas esticam-se para um lado e para outro, bairro afora.
Hoje Vamos Ver tem quase tudo que tem uma pequena cidade, como igreja, praça, comércio e vida noturna ativa. O Doutor do Zaca, um flamenguista insuportável, sempre vestido de preto e vermelho, era o juiz das partidas que atraíam centenas de pessoas nos finais de semana. Em qualquer lugar deste País a paixão do brasileiro pelo futebol é uma febre incurável. Até mesmo em Ipueiras, tão pequena e tão distante dos grandes centros, se percebe nas pessoas de todas as idades, essa sede insaciável pelo esporte das multidões.
Ao longo da estrada até a entrada da cidade, espaço outrora das cavalhadas, encontram-se hotel, motel, casas residenciais e lojas de comércio. Até bem pouco tempo nossa gente não conhecia motel, pois só existia em cidades de porte mais elevado como as capitais dos Estados.
À margem desse mesmo trecho da estrada há uma relíquia! A casa de Pedro Malaquias Catunda. Conclamo ao Patrimônio Histórico da cidade, sua preservação, que essa pérola não seja demolida e engolida pelos especuladores imobiliários.
Ela tem vida, é o passado que não pede licença ao presente para se mostrar ao futuro; o visitante ver ao vivo, sem ler, o que aconteceu de mais belo e doce nos anos que se passaram. Estilo barroco, colonial, seja o que for tem que ser conservado uma vez que é o registro da história.
____________________________________
6 Comentários:
Luiz Alpiano Viana, agora residindo no Ceará, em Fortaleza, volta a colaborar com o Suaveolens com uma crônica de grande atualidade.Damos-lhe as boas vindas.
Sim, Ipueiras está mais bela e nós todos que a amamamos devemos divulgar isso, assim é Ipueiras, uma linda cidade.Belo artigo.
Obs: Onde anda os trabalhos do professor Bérgson Frota?
Gostei muito de como falou de sua cidade natal, já estou curiosa para ler a segunda parte!!A descreve com tanto carinho que fiquei curiosa de conhecer!Parabéns 'Graça Chaves
Alpiano com um olho no passado e outro no futuro, faz sua caminhada pela cidade de Ipueiras evocando saudades e apontando verdades.
Dalinha Catunda
Muito bom saber da Ipueiras progressista pelo relato do Alpiano. Quero ter a oportunidade de ouvi-lo pessoalmente e efusivamente abracá-lo, agora em janeiro, quando comemoraremos com ele, que faz parte da nossa turma da Quarta Série de 1967, do Colégio Estadual Otacílio Mota, os 40 ANOS DEPOIS.
Tadeu Fontenele
Cara ANA LÚCIA LOPES, prof. Bérgson fez contato e disse-nos que está fazendo Mestrado. Certamente o tempo está curto momentaneamente para ele. Mas vai voltar a colaborar em breve. OK?
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial