PARQUES E JARDINS: A GARANTIA DO VERDE NA CIDADE
Lin Chau Ming
Morei em Curitiba por alguns anos, antes de me mudar para Botucatu. Considerada uma das cidades brasileiras com maior índice de área verde por habitante, a capital paranaense dispõe de muitos parques públicos, conservando uma vegetação que contém uma das árvores mais bonitas do Brasil, na minha modesta opinião, a araucária.
Quantos metros quadrados de área verde uma cidade precisa para dar uma melhor qualidade de vida a seus moradores? Há um índice estimado pela Unesco para isso, que não me lembro ao certo qual é, mas acho que Curitiba ultrapassa em muito esse valor. Andei por muitos desses parques e sempre saía das trilhas para estudar as plantas nativas, observar com mais detalhe cada uma das árvores e arbustos.
Minha casa ficava em um loteamento fechado, onde havia um pequeno remanescente desta floresta. Literalmente, vivia debaixo da floresta, pois construí minha casa no meio das árvores. Num rápido levantamento feito na época, havia, em meu terreno, dentre outras, mais de oitenta pés de Podocarpus, vinte de araucária, algumas Canella e um enorme pé de cedro. Ficava feliz em poder morar num lugar assim.
Soube que, logo depois de minha mudança, a prefeitura da cidade inaugurou mais dois parques, grandes, o Tingui e o Tanguá, bem próximos a onde eu morava. Pena que não pude usufruir daquelas novas estruturas, mas as visitei em algumas ocasiões em que retornei à cidade.
Botucatu possui poucos parques públicos, e o Lageado acaba se transformando em um deles. A cada dia que passa, é possível ver um número cada vez maior de pessoas fazendo exercícios ou passeando pelas ruas da fazenda. Sempre fazia a comparação da quantidade e qualidade dos parques (e consequentemente, de áreas verdes) entre Curitiba e a terra dos bons ares, com vitória fácil do “lugar que tem muito pinhão”, na linguagem tupi.
Nova York também tem várias áreas verdes, urbanas. São parques e jardins, distribuídos entre seus condados. A mais famosa, talvez não a maior, é o Central Park, localizado no meio da ilha de Manhattan. Conta sua história que era um pântano, que não permitia uso social, pela dificuldade de acesso e locomoção. Várias administrações se passaram até que a área foi drenada, as nascentes protegidas e alguns reservatórios de água foram construídos, não somente para uso em lazer, mas também para consumo humano, sendo então inaugurada em 1860.
Hoje não tem quem não venha ao Central Park, ao menos para conhecer alguns de seus caminhos arborizados e entrar em contato, um pouco, com a natureza, no meio de tantos prédios ao redor. Esquilos são animais facilmente encontrados nas árvores e gramados, saltitantes, para alegria de todos.
Há ainda na cidade, diversos outros parques, administrados pela prefeitura local, outros por outras instituições públicas e também há as que são de propriedade privada. Em cada bairro existem associações comunitárias que cuidam de áreas verdes, menores. Esforçam-se para que sejam bem cuidadas e possam ser utilizadas pela comunidade. Organizam também atividades recreativas e educacionais, garantindo um bom uso social para elas.
Numa cidade dominada pelo cimento e ferro, a existência desses locais, que quebram o tom cinzento e vítreo dos prédios, é fundamental para a qualidade de vida de seus moradores. Todo esforço é bem vindo para que haja a criação de mais áreas assim.
Porém, a luta dessas entidades tem sido por outros motivos. Por causa da expansão de empreendimentos imobiliários na cidade, vários grupos empresariais adquirem áreas verdes privadas ou conseguem autorização de órgãos governamentais para construir em áreas públicas, causando revolta entre os moradores do entorno destas.
Alguns exemplos recentes na cidade de Nova York: os Yankees, time famoso de beisebol que tem um grande estádio no Bronx, conseguiu autorização da prefeitura para usar algumas áreas adjacentes, públicas, para aumentar seu estacionamento, que não suporta mais a quantidade de veículos estacionados em dias de jogos, apesar de existir uma estação de metrô praticamente dentro do estádio.
Há vitórias, entretanto. Um bairro no Brooklin conseguiu aprovar uma lei que enquadra como patrimônio histórico-cultural, um conjunto de pequenos sobrados, com mais de 150 anos, que mantém entre si, uma extensa área verde, de uso público. A conservação deste conjunto arquitetônico está garantida.
A Universidade de Nova York, a maior universidade privada do Estados Unidos, que possui uma grande quantidade de imóveis ao sul de Manhattan, apresentou recentemente sua proposta de expansão de prédios, mas, pela falta de espaço na ilha, optou por um projeto onde estes seriam construídos no subsolo, ocupando os locais nas projeções verticais de vários lugares, incluindo áreas verdes públicas. A Associação dos Moradores do Village entrou com processo, argumentando que as áreas são públicas e que as escavações e as obras fariam muito barulho e poeira na região, acabando com o sossego, além de algumas áreas poderem desmoronar.
Para compensar a perda dessas áreas, as empresas apresentam algumas contrapartidas, como por exemplo, construírem áreas públicas “indoor”, ou seja, jardins e parques cobertos, debaixo de imensos edifícios.
- Não, não servem, não basta o espaço, tem que ter qualidade, bradam os ativistas ambientais-urbanos.
Há algumas destas instalações sociais na cidade. Áreas privadas de uso público. Árvores em ambiente quase asséptico. Um tanto estranho, não acham? Há quem goste, afinal, gosto cada um tem o seu. Mas no fundo, no fundo, nesta cidade, um canto de passarinho ou um relance num esquilo faz uma diferença enorme, não?
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Foto do Central Park de Nova York:
http://www.visitingdc.com/images/central-park-picture.jpg
Foto do viveiro de mudas da prefeitura de Ipueiras, no Caerá:
1 Comentários:
Ilustramos esta excelente crônica de Lin Chau Ming com o Central Park de Nova York e com o viveiro de mudas da prefeitura de Ipueiras do Ceará, propositadamente, mantendo a filosofia do blog: "O local é universal". Parabéns ao prof. Lin e obrigado.
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