O romance escrito durante a década de 40 na prisão, narra histórias que levam o leitor ao questionamento da própria lucidez.
Entremeando realidade com fantasia, o protagonista conforma-se com as alterações que vão surgindo em sua vida para depois descobrir que é na incerteza que se encontra a natureza da própria vida.
A primeira edição de “O Valete de Espadas” foi lançada em 1960. Mesmo antes de ser publicado o romance foi alvo de muitas críticas, pois os manuscritos passaram pelas mãos de grandes escritores. Muitos condenaram a obra outros teceram grandes elogios.
Depois de publicado não pararam de suceder-se edições seguidas da obra que para muitos detém uma enigmática mensagem de vida do autor.
A saga de Gonçalo Falcão de Val-de-Cães é uma epopéia dos tempos modernos que o autor de forma intrigante consegue desenvolver em oito capítulos. Logo no primeiro, intitulado “O Navio”, se tem a apresentação do protagonista e sua clara desorientação da realidade que ao invés de ser por ele apreendida e compreendida é uma prisão desorientadora de sua sã consciência.
Indicado por uma universidade americana em 1979 para concorrer ao Nobel de Literatura, o romance deste cearense de Ipueiras, marca as letras brasileiras como uma forma definidora de uma nova rota de narrativa.
Franklin de Oliveira na sua apresentação do romance resumiu em uma frase o que era a obra tão criticada : “O Valete de Espadas integra a grande família centro-européia do romance expressionista criado, numa hora agônica de nossa civilização, para refletir a situação do homem contemporâneo sob o impacto do absurdo.
Gerardo Mello Mourão foi também escolhido e consagrado no ano de 1994, como o “Poeta do Século XX” pela Guilda Órfica, uma sociedade poética criada na Europa no século XVI.
Residindo no Rio há décadas, o poeta visita regularmente seu Estado bem como sua cidade natal, mostrando na sua privilegiada intelectualidade a importância das raízes na vida e criação de um artista.
Ao completar 45 anos de sua primeira publicação “O Valete de Espadas” ainda é um romance cheio de mistérios, de símbolos, de códigos que instiga ao leitor vários questionamentos, entre eles o mais importante, a natureza da existência humana como obra individual ou soma de um conjunto coletivo de fatos.
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Nota do autor : O artigo acima foi publicado no jornal O POVO em 08.01.2006, na época o grande escritor e poeta ainda vivo fez através de meu pai chegar a mim uma pequena nota de agradecimento pela lembrança. Por fidelidade ao trabalho não o alterei, fica como uma humilde homenagem a quem tanto fez por Ipueiras e pelo Brasil.
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OS SÁBADOS DE MACAMBIRA
“Era quase sempre sábado em Macambira” completará em 2007, vinte anos de seu lançamento. Durante estas duas crescentes décadas, o livro foi se tornando aos poucos uma obra prima da literatura memorialista interiorana cearense.
Seu tema não são as experiências, mas a ânsia de contá-las. Narradas por um jovem que está aprendendo e ao mesmo tempo internizando a vida complexa e rica de seu torrão natal.
Frota Neto enfrenta suas próprias memórias de juventude e escreve um romance de recriação, mudando de alguns o nome, doutros a região. Até a cidade quando então Ipueiras, lê-se agora Macambira.
Não deixa de ser um livro autobiográfico lançado na maturidade. Os acontecimentos na vida do autor, ultrapassam o interesse comum e ganham o interesse geral.
É um romance de formação, informação e recordação, onde não há um só episódio narrado com particular elegância e relevância para o leitor.
Recriar e criar a Ipueiras de uma época é a preocupação do autor, e como toda recriação, renova-a com outro nome. Construindo lá o que na arte de contar histórias dá liberdade e traz riquezas à narrativa, detalhes e novos traços.
O leitor vê-se ao ler esta obra, inserido dentro de um universo interiorano com seus tipos marcantes, e apesar da semelhança dos tipos físicos e urbanos, o lugar é Macambira, e lá quase sempre era sábado.
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Fotos: 1. Gerardo Mello Mourão: http://www.ipueiras.ce.gov.br/ 2. Frota Neto em maio de 2007, ao lado de Tereza Mourão e familiares de Edmundo Medeiros na biblioteca do Senado Federal do Brasil no dia da homenagem "post mortem" a Gerardo Mello Mourão, e lançamento do livro "A Saga de Gerardo: um Mello Mourão", de José Luis Araújo Lira (acervo de Tereza Mourão).
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Nota do autor : O artigo foi publicado no jornal O POVO em Fortaleza-CE, em 12.11.2006, daí no texto se ler “ ... completará em 2007”, não quis altera-lo. Quanto ao título, foi originalmente “Os Sábados de Macambira”, mas sofreu da redação a mudança para “Macambira”.
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Bérgson Frota, formado em Filosofia/Licenciatura pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e em Direito pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR), é um prestigiado cronista ipueirense e pesquisador da história e da geografia do Ceará, especialmente da cidade de Ipueiras. É professor visitante da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e professor de Grego Clássico no Seminário da Prainha - Fortaleza.
8 Comentários:
Gerardo Mello Mourão e Antônio Frota Neto são dois ícones de Ipueiras, do Ceará e do Brasil. Gerardo atingiu um internacionalidade maior, por causa de sua magnífica obra literária traduzida. Dos dois,o que me é mais próximo é Frota Neto, meu colega de curso primário e um grande amigo a quem vez por outra encontro em Brasília, sempre com muita alegria. Bérgson Frota presta uma justa homenagem aos dois ícones, mediante o enaltecimento de sua obra. Parabéns.
Gerardo Mello Mourão E frota Neto são escritores que prestigiaram Ipueiras em suas obras. Nos artigos de Bérgson Frota, que também sabe prestigiar os valores de sua cidade, o reconhecimento aos dois escritores é uma justa homenagem.
Dalinha Catunda
Estes dois textos, embora tendo sido publicado há quase um ano, mesmo assim retrata o que estes dois escritores, em épocas diferentes representam para Ipueiras, e espero que os ipueirenses lembrem sempre deles com muito carinho e reconhecimento, a estes queridos filhos da terrinha que carregam e carregaram sua terra mãe eu seu coração e seus escritos. E por falar em escrito, queria dizer ao Frota que nós, seus conterrâneos e admiradores estamos a esperar mais um livro seu, quem sabe o QUASE II.
Do livro Valete de Espada, lembro quando pequena e meu pai Tim Mourão foi presenteado por Gerardo com a 1ª edição e meu irmão Vává, já um rapazote pegou-o e mostrando para os amigos na nossa pracinha, chegou aos ouvidos de Pe. Belarmino o qual tomou o livro e se não me engano o destruiu, pois o mesmo não foi mais devolvido.
Quanto a foto do Frota, as filhas de seu Edmundo e eu, esta foi tirada na biblioteca do Senado, quando da publicação do livro de José Lira.
Forte abraço e até breve
Tereza Mourão
Faço um comentário honesto, os dois trabalhos são ótimos, tratam de obras de dois grandes mestres da escrita, mas e o autor deles ? Parabéns Bérgson Frota, a análise que fez sobre O Valete de Espadas vai muito me ajudar no estudo que faço da obra deste grande escritor.
Acredito que toda palavra de estímulo traz um pouco do ser que nos quer algo de bom ao fazê-lo, agradeço pelo reconhecimento e peço aos amigos que lêem os trabalhos neste blog que o comentem nele, recebi vários e-mails, e já estou utilizando um segundo endereço para corresponder-me em decorrência disto. Portanto se desejarem comentar cliquem aqui e comentem aqui.Obrigado.
Bérgson Frota
Valew o recado. Parabéns novamente, trabalhos nota mil.
Bérgson gostaria que fizesse trabalhos sobre grandes cearenses como Padre Cícero, Dragão do Mar, Bárbara de Alencar e assim por diante. Suas pesquisas são excelentes, você trabalha bem o autor e a obra, mas não devem se restringir a uma só região do Estado. Sucessos.
Alguém sabe dizer a história é quem foi frota Neto?
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