Por
Dalinha Catunda
Ipueiras, como muitas cidades do interior, tem suas estradas cheias de cruzes. Por detrás de cada cruz uma história triste a ser contada.
Lá pros lados do talhado, na Ladeira dos Montes, existe uma cruz marcando mais uma das tantas histórias tristes. A história da finada Marta.
Contam que há muito tempo atrás Marta contraiu lepra e fora abandonada por sua família no meio da floresta. Ali viveu como bicho do mato. Sua alimentação era deixada em cuias e latas na beira da estrada para que ela fosse pegar e matar a sua fome.
Um dia, Deus todo poderoso e misericordioso acabou com o sofrimento de Marta. Seu corpo mutilado ficava na terra e sua alma sofrida subia aos céus. Dizem que ali mesmo ela fora enterrada. Porém Marta não seria apenas uma triste história.
Depois de tanto sofrer, morrer e ser enterrada, no lugar onde seu corpo fora depositado, em volta a uma cruz singela, começaram a aparecer flores de toda natureza, flores antes nunca nascidas naquele lugar. As flores eram tão perfumadas que abelhas e borboletas se multiplicavam embelezando o local
A história se espalhou, e em pouco tempo o que era uma cruz se transformou em capela, as notícias de graças alcançadas se espalhavam pelos mais distantes lugares e os devotos eram tantos que virou até romaria.
Reza a lenda que quando o vento começa a soprar forte lá pras bandas do talhado, um cheiro intenso se espalha no ar. E, um vulto desce do céu brilhando mais que o luar.
Todos juram que é Marta, ela vem visitar as árvores, os pássaros, pois ali nos tempos difíceis passou a ser o seu ninho e ela de tempos em tempos retorna aos velhos caminhos.
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Foto da cruz existente num cemitério do século XIX na cidade de Göttingen-Alemanha:
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – POETISA, ESCRITORA E CORDELISTA. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio:
3 Comentários:
A cruz do falecido, algo típico do nordeste. Dalinha narra com sutileza e talento um conto que se não verdadeiro é uma bela lenda, resgata o essencial da cultura sertaneja, a redenção pelo sofrimento e a transformação através deste em beatificado(a). Parabéns pela bela maneira de narrá-lo.
Bérgson Frota
De uns tempos para tenho pensado no tesouro que são as nossas lendas, e de como talvez fosse interessante termos um livro sobre elas. Livros ja se escreveram tantos, mas sempre sobre a lendas de sempre, aquelas que aprendemos na escola. Há muitas outras, belas e cheias de mensagem que poderiam ser divulgadas para enlêvo dos leitores. Dalinha e Bérgson são "experts" no assunto. Que tal a idéia? Parabéns Dalinha, por mais essa beleza de lenda.
Bérgson,
Obrigada pelas palavras de incentivo que muito me animam nessa caminhada.
Jean Kleber,
Já comentei com você a idéia antiga, de um livro em conjunto. Cada um bancaria sua parte, inclusive, há tempos atrás, o poeta Costa Matos me prometeu que faria o prefácio. Mas para que isso aconteça precisamos pensar em grupo, tocar o projeto em grupo e sair dos entretantos chegarmos aos finalmentes. Do pensar e agir sairia a solução. Bom lembrete o seu.
Um abraço,
Dalinha Catunda
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