UM DIA SEM CARRO
Numa cidade grande como Nova York, com cerca de 8 milhões de habitantes, há, como já mencionei anteriormente, um sistema de transporte público bastante eficiente e barato. Milhões de pessoas utilizam esses serviços diariamente. A linha ferroviária, juntamente com uma frota de táxi e demais veículos particulares, completam as opções das pessoas daqui para acessar os mais diversos locais. Situação idêntica às demais grandes metrópoles do mundo.
Poucos utilizam transporte alternativo, o ritmo do trabalho e a necessidade de se estar em vários locais durante o dia, com horários bem próximos impedem que sejam utilizados esses outros tipos de transporte. Além do mais, na terra do automóvel, não fica difícil imaginar que há uma pesada propaganda para a venda de carros, e por conseqüência, aumento no consumo de combustíveis fósseis, maiores índices de poluição atmosférica, contribuição para o aquecimento global, etc.
Os Estados Unidos são os maiores consumidores de energia do mundo. Não tenho certeza, mas deve ser algo em torno de 40 a 50% de toda a energia consumida em todo o globo. E eles estão começando a pensar em alternativas energéticas, e o encontro entre o Bush e o Lula, pouco tempo atrás, foi um indicativo dessa preocupação, uma vez que o álcool é considerado (em teoria) um combustível renovável e que agride menos a natureza.
Fico a imaginar os reais motivos para o presidente americano pensar em uma alternativa que seja mais sustentável ambientalmente, uma vez que, lembre-se, eles não assinaram o protocolo de Kyoto, não concordam com as propostas de diminuição dos índices de emissão de gás carbônico na atmosfera, encaminhadas pelo conjunto das nações do mundo.
Num jornal de circulação diária, havia uma charge mostrando o presidente Bush lamentando, na escrivaninha de seu escritório, os azares com os desastres ambientais que estão ocorrendo agora nos Estados Unidos, como nevascas em alguns estados ao Norte/Nordeste, inundações no Centro-Sul, furacões na costa do Golfo Mexicano e queimadas nos estados da costa pacífica. E na gaveta de sua escrivaninha, o tal do protocolo, em branco, sem assinatura.
Por isso, atividades que saem do normal são objeto de matérias jornalísticas. Uma delas mostrava uma enfermeira que ia ao trabalho de bicicleta, todos os dias, independentemente das condições climáticas, num percurso de mais de 100 quarteirões. Muitos parabenizavam a jovem ciclista, que, com humildade, dizia ser uma atividade tranqüila, dada a rotina com que ela já realizava tal empreitada. Dizia ainda receber elogios no hospital onde trabalha pela forma física adquirida com esses exercícios diários.
No Brasil também há algumas iniciativas para as pessoas saírem do sedentarismo, como o dia em que há um desafio para que cidade mobilize seus moradores para fazer alguma atividade física, mesmo que seja por alguns minutos em um dia. Faz bem para a saúde pessoal.
Para a saúde do planeta, um dia sem carro. Muitos são partidários dessa idéia, mesmo por esse pequeno período. Outros, por período maior. E fazem disso, um estilo de viver. Nada mal, não somente para o planeta, mas também para as pessoas. Podem-se aumentar os contatos pessoais durante esse trajeto para o trabalho ou para outra atividade, melhorando a qualidade de vida.
Em Botucatu, devido à forma atribulada que levo minha vida, acostumei-me a andar de carro. Durante todos os anos em que lá morei, peguei o ônibus apenas uma vez; em todas as outras ocasiões, para me locomover, por comodidade, andava de carro. Isso me incomodava bastante, pois, além de gastar dinheiro com gasolina, estava engordando, barriguinha meio saliente e o fôlego diminuindo.
Tentei mudar essa situação algumas vezes, principalmente quando me mudei para um bairro vizinho ao Lageado. Podia ir caminhando à faculdade, cerca de dois quilômetros apenas, ou ainda ir de bicicleta, trajeto que não tomaria mais do que sete ou oito minutos. Adaptei uma pequena cesta na frente do guidão de minha bicicleta, para carregar algum material, comprei pneus novos, revisei os freios, pronto, meu transporte alternativo estava perfeito.
Consegui manter essa situação apenas por uns dois meses, depois, por preguiça, ou por causa do calor do sol do meio dia, desisti e voltei ao carro. A barriga saliente, infelizmente, voltou, o fôlego, sumiu novamente.
Aqui em Nova York, não tenho carro e também nem tenciono ter. Tenho andado muito de metrô e ônibus, mas aproveitando o relevo pouco acidentado da cidade, vou caminhando em muitas ocasiões. É bom para a minha saúde, não poluo o ambiente e, de quebra, ainda conheço lugares da cidade que não conheceria indo de metrô ou ônibus.
No início, as pernas fraquejavam, mas já me acostumei, hoje estou com um fôlego maior. Outra coisa boa nisso: meu nível de glicose no sangue (sou diabético) diminuiu bastante. Para essa doença, além dos exercícios físicos, preciso comer menos; vou conseguir.
Então, por uma contingência da minha situação aqui, vou ficar, sem que isso me incomode, não apenas um dia, mas dezenove meses sem carro.
Bom para o meu bolso, minha saúde e é uma singela contribuição que dou ao nosso planeta.
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6 Comentários:
Devemos ao nosso amigo Lin interessantes informações e reflexões a partir da realidade de uma cidade distante, mas, hoje com o mundo cada vez "menor", tão próxima. Valeu, Lin.
Concordo com o escritor Chau Ming, morei 30 anos em São Paulo, indo ao trabalho naquele engarrafamento gigantesco, enfrentando chuva, inudações e frio intenso bem como poluição cada vez maior, índice de violência crescente e o pior, o medo e a insegurança. Mas por saúde e benção de Deus me mudei para Natal, que para mim é um paraíso, ruas com poucos carros, sem poluição, nível de violência baixo, e tenho hoje não só uma vida tranquila com minha família como pratico eu e minha esposa caminhadas diárias, só fiz me enriquecer com tais mudanças,na maioria das vezes morar num grande e importante centro populacional traz mais prejuízos que benefícios.
Um dia sem carro, esta era a crônica que gostaria de escrever. O autor retrata com maestria o dia a dia de uma metrópole no que tange a qualidade do viver humano, os grandes males que a poluição mundial, que está causando na população perda significativa de qualidade de vida e finalmente uma ação proativa que tomou para melhor estar com sua saúde. Lendo o comentário de Luís Nelson, penso se já não está no tempo de me mudar de Fortaleza, rsrs, pois a cidade já enfrenta grandes engarrafamentos, níveis altos de violência e afinal, só não é por mim abandonada por considerá-la a mais bela capital do Brasil, vale o sacrifício.Como o sr. Jean Kléber no seu comentário, nos leva o trabalho ricas informações e a gestar várias reflexões. Ótimo texto.
Bérgson Frota
O rico relato de Lin Chau Ming realmente nos faz refletir, e apostar que se cada um fizer um pouquinho o mundo poderá melhorar e muito.
Moro há trinta anos no Rio de Janeiro,sei da violencia reinante, do medo que se tem por filhos e marido que vão a luta no ir e vir de uma cidade grande. Mas nem por isso o Rio deixa de ser uma rosa maravilhosamente bela,e para desfrutarmos desta bela rosa temos de encarar também os seus espinhos.
Lin,
Que bom comentario, aqui em Brasilia em frentE a ECOVILA OCA DO SOL , na estrada parque do Paranoa, onde moro o novo governador esta prestes a inaugurar uma ciclovia ( primeira da capital no plano piloto).Parece que a consciencia por esta terra comeca a aumentar em relacao a questoes de saude individual,coletiva, ambiental e de qualidade de vida .
aguardo teu e-mail e noticias. ate quando voce fica ai? lembrei-me do ano que passei o natal em NY fomos a pé na Catedral na missa de galo e a capital do capital estava la na Igreja e celebrando. Nem tudo sao querras iraques e loucuras e torres de babel,felizmente pra nos porque nos permite sonhar com o belo.
Sol
Lin,
Que bom comentario, aqui em Brasilia em frentE a ECOVILA OCA DO SOL , na estrada parque do Paranoa, onde moro o novo governador esta prestes a inaugurar uma ciclovia ( primeira da capital no plano piloto).Parece que a consciencia por esta terra comeca a aumentar em relacao a questoes de saude individual,coletiva, ambiental e de qualidade de vida .
aguardo teu e-mail e noticias. ate quando voce fica ai? lembrei-me do ano que passei o natal em NY fomos a pé na Catedral na missa de galo e a capital do capital estava la na Igreja e celebrando. Nem tudo sao querras iraques e loucuras e torres de babel,felizmente pra nos porque nos permite sonhar com o belo.
Sol
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