O POVO A VAIAR O SOL
Marcondes Rosa
De início, a irreverência incontida dos cariocas, na abertura dos Jogos Panamericanos, a vaiar o presidente Lula, em seu repisado narcisismo do "nunca na história deste País"...
Depois, a tragédia do air bus da Tam, em Congonhas, a nos pôr abaixo o narcisismo do apagão aéreo como "prosperidade", decantada sob o lema do "goze e relaxe"...
Súbito, o crescente "não dá mais p'ra segurar", em seu ingênuo "lirismo (...) com manifestação de apreço" aos tempos de agora, a explodir, entre o povo, na reação do "estamos cansados" e do "saco cheio", do Oiapoque ao Chuí...
Cá entre nós, ao sul do equador - onde crescimento econômico, desde Celso Furtado, tentava se metamorfosear em sustentável desenvolvimento, pelas laboriosas vias da agricultura e da indústria -, nem mesmo a decantada segurança das bolsas nos calaria.
Por trás da digna intenção, de franciscana raiz da ecclesia lascatorum, deixava escapar sinais do clientelismo governamental e dos grupos econômicos a "viciar o cidadão", em meio ao crime e à prostituição até.
Na terra de santa cruz, o "mau desenvolvimento" terminou por acentuar o crime, que, no Ceará, aguarda "ronda chic" a reprimi-lo. Isso, justo onde o governo, cobrado, decai em sã humildade, auto-reprovando-se com nota baixa...
Felizes esses irônicos tempos de vaias, arrogâncias e narcisismos ao chão! Infantes com lápis e borracha à mão, em aulas de caligrafia, refazemos afinal os borrões de nossa histórica vida política, tentando passar a limpo "este País".
Que seja assim, do Planalto Central, ao Nordeste e Fortaleza. Sobretudo desta, que, narcísea, proclama-se "bela". É bom não esquecermos que nosso povo, como outrora, pode repetir cena histórica: vaiar, em plena Praça do Ferreira, o astro-rei, que, na dita "terra do sol", um dia, tardou pelo esperado amanhecer...
4 Comentários:
Publicar "O povo a vaiar o sol", de Marcondes Rosa, foi uma experiência estimulante, não apenas pela excelência da crônica mas porque obrigou-me a pesquisar o inusitado fato histórico da vaia ao sol na Praça do Ferreira, em Fortaleza, em 1942, relendo o fantástico livro de Daniel Carneiro Job que também relata a vaia a um carro fúnebre que, transportando um defunto, teve o pneu repentinamente estourado na mesma praça.Delicioso.
O Cearense é gaiato por natureza e acostumado a rir da própia miséria. Vaiar o sol é mais uma boa tirada nordestina.
Quanto a vaia ao Lula, era previsível, sim. Os ricos, banqueiros, continuam intocáveis. O pobre, mudo, usufruindo da bolsa família que lhe enche a pança e cala a boca. Entre o rico e o pobre uma classe média imprensada e sufocada esperando uma oportunidade para desabafar.Foi o que aconteceu no Rio.
Ou esse grito ecoa pelos quatro cantos do País, ou vamos continuar fazendo de conta que vai tudo muito bem.
Eis um bom tema: ilustrações do povo vaiando o sol. è possível encher a Praça do Ferrieira.
Amigos, já havia lido o primoroso artigo do Marcondes mas aproveitei o ensejo do convite e estou a reler e saborear o Suaveolens!Voces sao uns danados!
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