Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

9.6.14

SERTÃO MARCADO NO PEITO


Por
Dalinha Catunda

*
Este canto nordestino
Que sai chorado do peito
É lamento não tem jeito
Presente no meu destino
É um canto peregrino 
De quem deixou o seu chão
Mas guarda no coração
A saudade acumulada
Daquela vida levada
Nas quebradas do sertão.
2
O cheirinho de alfazema
A cada irmão que nascia
O capão que se comia
Pois era este o sistema
Só de falar nesse tema
Sinto a saudade arrochar
Com saudade do meu lar
Da minha mãe parideira,
Do entre e sai da parteira,
Que vinha para ajudar.
3
Nos bons tempos de criança
A casa era sempre cheia
Bola de gude e de meia
Faziam nossa festança
Era ciranda, era dança
E corda nas brincadeiras
Na roda mãos nas cadeiras
Na hora do requebrado
O mundo era encantado
Naquela minha Ipueiras.
4
Meninos tinham pião
Meninas tinham peteca
De pano era a boneca
Naqueles tempos de então
No reino da exultação
Do chicotinho queimado
E do anel que era passado
Do trisca e da cabra cega
O que foi bom ninguém nega
Fica no peito marcado.
5
Recordo o grupo escolar
O velho Padre Angelim
E a saudade bate em mim
Como a sineta a tocar
Aprendi ler e contar
Fiz muita caligrafia
Ir à aula todo dia
Nunca foi obrigação
Era sim satisfação
Era isso que eu sentia.
6
E nos tempos da invernada
Danações e brincadeiras
Banhos em bica e biqueiras,
Nos quintais ou na calçada
Folias da meninada
A algazarra em tropel
O barquinho de papel
Que levava a correnteza
A vida era uma beleza,
E na lembrança um painel.
7
Banho de rio e açude
Curti muito em meu torrão
Brilhava a satisfação
No olhar da juventude
Na enxurrada de atitude
Na explosão de alegria
No queimar da energia
Bem própria da mocidade
Que acolhe felicidade
Sem pensar em letargia.
8
Com cabelos na cintura
Bem faceira e enxerida
De colegial vestida
Tinha até ar de candura
Mas fui o cão em figura
Fazendo o ginasial,
No Colégio Estadual
Chamado Otacílio Mota.
Aprontei muita marmota
Fiz meu próprio manual.
9
Na festa da Conceição
Padroeira do lugar
Bandinha para animar
Quermesses e procissão.
Lembro as prendas do leilão
E a tabua de pirulito
Como eu achava bonito
Ouvir aquele clamor
Do menino vendedor
Que caprichava no grito.
10
Os passeios na pracinha,
Rádio Vale Jatobá,
Mensagens vinham de lá,
Todo dia de noitinha.
Rádio que Dedé mantinha!
E dela todo galante
Ali do alto- falante
Oferecia cantiga,
Bolero, música antiga,
Aos pares, a cada amante.
11
Nosso antigo Carnaval
Tinha a sua tradição
Nosso maior folião
Foi mesmo seu Camaral 
Um brincante sem igual
E repleto de energia
Adorava uma folia,
Isso guardei na memória
Hoje registro na história,
Desta minha cantoria.
12
Um clube com tradição
Hoje é somente lembrança
E na saudade a cobrança
Solicita explicação:
Cadê o velho chitão?
E as festas tradicionais?
Que hoje não vejo mais
Se foram com as orquestras...
Relembradas em palestras,
Ou conversas triviais.
13
A tertúlia era presente
De vitrola ou radiola
Rapaz direito não cola
Não cola moça decente,
Isso com o fogo ausente!
Pois em outra conjuntura,
No momento da quentura
Com duplo consentimento
Apenas o pensamento
Já fazia a ligadura.
14
Lá no meu interior
Gritei palhaço na rua
Ele falava da lua
Eu dava o maior valor
O palhaço é pregador
Que difunde alacridade
Sai animando a cidade
Com seu nariz encarnado
Com seu texto decorado
Propagando novidade.
15
Do meu amado rincão
Ainda lembro-me bem
De quando passava o trem
Agitando a estação
A saudade e a emoção
Ida e volta dos amores
Beijos, abraços, rubores,
E o som cortante do apito
O peito abafando o grito
Em resquícios de pudores.
16
Nas asas do pensamento
Revi o meu universo
E tudo cantei em verso
Não me faltou argumento
Do passado me alimento.
Dele faço o meu presente
Pra falar da minha gente
De raiz e de costume 
Agradeço a musa o lume
Que iluminou minha mente.
*
Fim
Versos de Dalinha Catunda



Maria de Lourdes Aragão Catunda – Poetisa, Escritora e Cordelista. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio: (cantinhodadalinha.blogspot).

1 Comentários:

Blogger Dalinha Catunda disse...

Olá Jean Kleber,
Obrigada por postar meu cordel. Esta é nossa Ipueiras.
Meu abraço.

9.6.14  

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