UMA NOITE DE PHOLHAS
As boas recordações de um passado não muito distante, estavam ali num telão, exibidas passo a passo. Os Grupos musicais que mais se ouviram nos anos 60 apresentavam-se para uma platéia de casais que, aos 17 anos, embalavam as tertúlias das noites de domingo.
É possível que se vivam belas e inesquecíveis fases de nossa vida em que o carinho é o combustível que alimenta. Era assim que os casais se sentiam naquela noite com o ar puro e livre de Delícias do Sertão. Os ventos de aconchegos batiam insistentemente o rosto dos presentes. Um irmão cochichou-me ao ouvido que eu não podia abusar dos bons momentos, mas deles usufruir da melhor forma possível. Foi aí que entendi que não sou adulto, mas a noite, sim! E há quem diga que ela é uma criança! Eu tinha de voltar para casa antes que o dia chegasse. Era esse o recado que ele me dava!
A lua despencava de cansaço e sono, e procurava lugar para um cochilo! Só se ouvia o desfilar de cada peça musical! A magia do amor nascia naquele instante, e cada uma das vitimas dessa incipiente e gostosa loucura, sabía qual o remédio, qual o antídoto das carências latentes que só o corpo denuncia.
O homem inteligente e criativo não espera que a parceira ensaie uma cena de amor. Ele sabe o que fazer mesmo na negritude noturna. Quem ama se alimenta de carinho, portanto, para ser educado é necessário doar-se em dose dupla. Esse é o fundamento número um da vida a dois. É providencial, nessas horas, ser cidadão desprendido de carinho para o momento ter mais dinamismo e beleza.
Naquela noite, Os Pholhas levaram o público de jovens pais e avôs de volta aos anos de ouro da mais bela música já cantada. E cantei também, em coro, o que se fazia há 40 anos. Senti o cheiro da brilhantina tabu que tanto usei e pensava ser a melhor do mundo.
Muita gente ainda não sabe que a felicidade mora dentro do peito, num canto, bem escondido. É só clicar! Às vezes a pessoa de nossos sonhos vive no mesmo bairro, no mesmo beco e procura-se noutro endereço! É preciso ler o que outros corações escrevem nas paredes do desejo e nas páginas da esperança.
Dizem que só sabe amar quem beija bem, quem acaricia sem medida; é verdade que o coração tem segredo. Quem é aprendiz, capitula. A aproximação a alguém requer permissão, cuidado e jeito. Por isso os menos experientes sofrem e dizem não ter sorte, mas também afirmam não terem jeito!
Meus importais sentimentos estavam ativados. A lembrança do gostinho do baton me levou aos 18 anos de idade. Beijar é uma tentação tão gostosa que se não tem tempo de perguntar nada ao outro! A arte de beijar é involuntária. Eu também, às vezes, não falo, mas ajo!
Com aquele som destruidor de corações, os casais se sacudiam do jeito que desse certo e se beijavam num frenesi insaciável. Ninguém ficava só olhando os outros. Todos estavam fazendo a mesma coisa: Namorando! Era um Deus nos acuda, meu Jesus! Os mais excitados falavam uma linguagem esquisita que só eles mesmos decifravam.
Os Pholhas afogueavam os corações e acalentavam os que a sós estavam! Eu me limitei a fazer de conta que dançava, que cantava. Nada disso eu faço que preste. Na verdade eu só sei mesmo, muito bem, me agarrar, beijar e outras estripulias que aprendi quando eu ainda era rapaz. Olhei para um lado e para o outro, todos estavam... Bem, todos estavam... Aí não tive alternativa senão fazer o mesmo. Foi uma noite de gala.
Luiz Alpiano Viana, é um ipueirense apaixonado por sua terra natal. As suas memórias e saudades de Ipueiras estão sempre presentes em suas crônicas, a exemplo de “Saudade” e “O astuto cirurgião”, narrativas que trazem de volta velhas e boas recordações. Tendo morado na cidade de Crateús/CE e em Brasília/DF, atualmente reside em Forteleza/CE e é funcionário aposentado do Banco do Brasil.
3 Comentários:
Uma viagem altamente sensorial a um passado recente de beleza e romantismo. É esta a essência da presente matéria do nosso amigo Luiz Alpiano. Parabéns, amigo!
Um excelente texto sobre os pholhas, não é do meu tempo, mas o trabalho é de qualidade, com belas melodias como tratou o sr. Alpiano. Os Pholhas colocam suas músicas sempre a disposição de quem procura letras ricas a tocar com suas melodias a sensibilidades dos ouvintes.Parabéns pelo resgate.
Olá Alpiano,
seu texto sem dúvidas toca profundamente quem de fato viveu os bons tempos das tertúlias, das paqueras e dos namoros.
Éramos um geração dançante e de certa forma feliz.
Um abraço,
Dalinha
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