O TEMPO DO TREM EM IPUEIRAS
Circundando montes e cruzando pontes, cuja água abaixo, vindo de várias fontes, inundava os diversos rios. O trem corria, rasgando as verdes matas, quando era inverno.
No verão, era a caatinga que pintava o quadro amarronzado, e verde, as carnaúbas uma e outra, feito pequenos pontos lá longe a parecerem alto oásis, alentando a esperança dos que no trem fitavam a aridez temporária no sertão.
Dentro, em contínuo sacolejar, os passageiros faziam uma viagem que durava um dia.
Vindo de Crateús, o trem chegava à Ipueiras entre quatro às cinco da manhã.
No bairro da Estação, vendedoras de café, bolos, batatas, doces, pamonhas, tapiocas não faltando para esquentar a velha cachaça.
No trem se ouvia músicas de rádios portáteis ou gravadores. Dormia-se, almoçava-se e enfim muito se conversava.
Toda viagem era uma rápida expedição a cada cidade, que por já possuir linha férrea era ponto de parada e vista.
Depois de riscar feito uma centopéia mecânica num constante andar barulhento, tanta terra e cidades, entrava em Fortaleza, no amarelado sol das cinco.
Começávamos do trem a divisar longe os arranha-céus. Primeiro o enorme exército de carnaúbas de ambos os lados e finalmente, já com o anoitecer, chegava-se a Estação Ferroviária.
Pedaços de lembranças, narrativas ricas de uma época que não volta mais.
Assim foi o tempo do trem em Ipueiras, tempo este que deixou saudades.
_____________________
Publicado no O Povo (Fortaleza-Ce) em 12.06.2010
Foto: corneliodigital.com
Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.
2 Comentários:
O trem como tema. Primeiro os versos de Dalinha...agora a prosa competente de Bérgson Frota. Temos orgulho em publicar! Desfrutem...
Bérgson, primeiro meus cumprimentos pelos artigos que faz jus ser filho de quem é. Seu pai se vivo fosse hoje completaria 84 anos. Mas Jeremias fez mais,deixou nos filhos seu talento, seus textos meu filho são maravilhosos, seus contos também só não herdou a poesia, mas isso é o de menos. Parabéns, do teu primo segundo Wagner Moura Catunda.
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial