Por
Nilze Costa e Silva
O Povo, 17 Nov 2009 - 02h40min
Bonita e sensual, ela caminhava com sua minissaia e uma blusa tomara-que-caia pela Praça do Ferreira. De repente, uma multidão de homens e mulheres de várias idades começou a xingá-la de prostituta, desavergonhada, assanhada. As vaias se multiplicavam a cada passo que dava. Ela não entendia bem o que acontecia a sua volta.
Tudo começara com assobios e ela até se envaidecera. Afinal, a moda da minissaia, inventada por uma inglesa chamada Mary Quant nos anos 60, já era bastante usada no Rio de Janeiro, de onde viera em férias a Fortaleza. A blusa tomara que caia era um modelo comum nos vestidos do séc. XIX e sempre alimentara a vaidade feminina.
O que estava acontecendo com o povo dessa cidade? Parecia história do tempo das cavernas... Acossada pela multidão, a jovem apressou o passo em direção ao cine São Luis, que estava fechado na hora, e buscou guarida na Loja Flama. Lá foi protegida pelo Cosme & Damião, dupla de policiais que faziam ronda na época.
Essa história me foi contada por uma amiga que assistiu a cena horrorizada com o comportamento retrógrado dos passantes da Praça do Ferreira, em 1961.
Quase meio século depois, no país da liberalidade, da praia e do carnaval, a cena se repete, desta vez numa universidade. A estudante de turismo Geisy Arruda, foi brutalmente hostilizada por alunos da Uniban, em São Paulo, no dia 22/10/09, por ter usado um vestido curto e provocante. Precisou de proteção da polícia para deixar o prédio, aos prantos.
Não foi à toa que o Brasil caiu nove posições no ranking de igualdade de gênero, divulgado em 28/10/09, pelo Fórum Econômico Mundial. O país ocupa agora a 82ª colocação. O resultado se explica por fatos como esses. São cenas explícitas de desrespeito e violência contra a mulher.
_________________________________________
Ilustração (site):
dottacom.files.wordpress.com/2009/07/pinturas-rupestres.jpg
_________________________________________
Nilze Costa e Silva nasceu em Natal, Rio Grande do Norte, tendo vindo morar no Ceará com alguns meses de idade. Graduou-se em Administração de Empresas e logo após especializou-se em Teoria da Literatura (1986), pela Universidade de Fortaleza UNIFOR). Iniciou na Literatura com o livro Viagem – Contos e Crônicas, que teve prefácio do consagrado poeta Francisco Carvalho. Sagrou-se em 1° lugar no Prêmio Estado do Ceará, com a novela no Fundo do Poço (com apresentação do contista Moreira Campos). Em 2001 fundou o grupo Poemas Violados. Promove sistematicamente a oficina de Escrita Criativa: “Palavras não são vãs”. Integra a Rede de Escritoras Brasileiras (REBRA). É colaboradora do Jornal O Povo, de Fortaleza, e conselheira do Conselho de Cultura do Estado do Ceará. No cotidiano, dedica-se a questões relacionadas aos direitos humanos. Recentemente lançou os livros de sua autoria, "Fortaleza Encantada" e "Tudo por causa do Sol".
2 Comentários:
A equipe do Suaveolens saúda o retorno de nossa grande colaboradora Nilze Costa e Silva. Sua crõnica enriquece nosso blog. Valeu, Nilze!!!
Olá Jean Kleber,
Muito bom o texto de Nilze.
A mulher, ontem, hoje e sempre pagará caro por sua ousadia.
Só que hoje ela está pabgando para ver.
Um abraço,
Dalinha
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial