QUEM SE EMOCIONA COM SUSAN BOYLE?
José do Vale Pinheiro Feitosa
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Sinal dos tempos é isso aí. Uma senhora de 47 anos, nascida e criada numa cidadezinha da Escócia, teve problemas de desenvolvimento mental na infância, mora sozinha com um gato, nunca teve namorados ou foi beijada e é pobre. Um dia aparece num programa de televisão inglesa de grande sucesso: Britains´s got talent. O nome: Susan Boyle. Uma senhora de porte baixo, gorda, já aparentando mais de cinqüenta anos chega ao palco para a incredibilidade do júri do programa. Uma incredibilidade encenada, feita para criar um clima na platéia e na assistência. Francamente demonstram não acreditar na caloura enquanto ela diz que cantará I Dreamed a Dream, uma canção do musical Les Misérables. Aí outra jogada de emoção: a canção é a mensagem da personagem Fantine da peça no momento em que esta sonha superar definitivamente a vida miserável que leva.
Afinal tudo é produção, tudo é feito para platéias de uma economia em crise. O sinal dos tempos. Panis et circensis. Por isso mesmo o escritor Marcelo Carneiro da Cunha, no blog Terra Magazine de Bob Fernandes, pretende ser Susan Boyle. E pretende por ser um escritor que tem o quê dizer, pretende dizer e escreve sem parar mesmo não tendo o sucesso de um Paulo Coelho. Então ele quer algo divino (ou midiático pois é o caso de Susan Boyle): “aquele instante de boa e pura mágica, em todos os anos que vieram antes, todo mundo viu apenas o jeito desengonçado e improvável de Susan e não a artista”. Marcelo acredita que Susan tem a “essência” do artista, aquela que fala ao coração dos homens e se comunica com Deus. Não disse, mas foi isso que ficou subentendido em sua solidão de artista que não arrasta multidões.
Circulou pela Internet a mais cabal prova que estamos criando a cultura, como nossos teóricos bem o dizem, a estética da crise. Já vimos isso em filmes de época, em pintura, literatura e até mesmo da arquitetura. Voltemos aos anos 30 e tudo se encontra bem catalogado. A estética da manipulação das pessoas em sofrimento, para que aplaquem sua raiva com a ruptura do progresso que lhes prometeram e não veio. Esta manipulação não é nova, sempre ocorreu, mas agora ela se encontra nitidamente dirigida para este sentido. Basta identificar as explicações que a imprensa inglesa oferta ao seu público.
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Foto: site examiner.com
3 Comentários:
Artigo atual e brilhante. Desfrutem.
Realmente Jean Kleber, este artigo de Feitosa é maravilhoso, e isto sim é o que chamamos de talento nato. Sem palavras, só espero que esta brilhante Susan seja sempre ela mesma e que Deus a ilumine sempre.
Uma ótima semana e até breve
Tereza Mourão
Olá Jean
Eu acho que é tão bom o patinho feio se transformar em cisne, que nem importa as tramas e sim o final feliz.
Um abraço,
Dalinha
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