Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

6.6.07

UM POUCO DA BIG APPLE



Por
Lin Chaw Ming

Se você quiser comida tailandesa ou chinesa, barata (no preço, não o inseto), tem. Se você quiser cerveja artesanal tradicional irlandesa ou beber uma horchata mexicana, também tem. Se você quiser assistir a uma ópera italiana ou a um espetáculo portenho, idem. Nesta cidade, que os americanos consideram, com um bom grau de arrogância, a capital do mundo, você pode encontrar de tudo um pouco. Isso é uma das coisas boas desta cidade.

Nós brasileiros fomos levados a comparar nossa vida com o padrão ou estilo de vida americano. E sempre saímos com sentimento de derrota, de inferioridade. Não deveríamos fazer isso. Cada país e seu povo têm o seu jeito próprio de ser e de viver. Autonomamente, com independência nas tomadas de decisões e no trato de sua gestão. Claro que no Brasil temos diversos problemas, de todas as ordens, porém, devemos encontrar nossas próprias saídas, verificando sim, os bons e efetivos resultados obtidos por outros, mas analisando-os à luz de nossas necessidades e características sócio-culturais.

O metrô daqui vai fazer 103 anos... Sim, foi construído logo depois que o Henry Ford inventou o automóvel e a linha de montagem. Não me lembro direito, mas acho que tem mais de 700 km de extensão, propiciando transporte público barato e eficiente. Um exemplo: a tarifa é de 2 dólares, 4 dólares ida e volta. Mas se você quiser andar o dia inteiro, com um único bilhete, quantas vezes quiser, paga 7 dólares. E se você quiser andar a semana inteira, quantas vezes quiser, paga 28. E ainda, se você quiser andar o mês inteiro (30 dias), quantas vezes quiser, paga 76. Fazendo uma conta rápida desta última opção, cada dia sairia por cerca de 2,53 dólares e cada pessoa poderia andar quantas vezes quisesse.

Em São Paulo, não há desconto algum, nem para aqueles que precisam usá-lo todos os dias, em pelo menos duas viagens; tiraram recentemente o desconto do bilhete múltiplo de 2, pasmém, para desconsolo do usuário.

Mas a limpeza do subway daqui não se compara ao de Sampa. O daqui é muito, mas muito mais sujo, principalmente quando as estações se localizam mais afastadas de Manhattan. Há ainda diversos avisos, alertando sobre violência e assalto. Um deles indica, em cada estação, local onde se pode esperar o trem com mais segurança, normalmente perto das cabines onde são vendidos os bilhetes ou perto da área onde a pequena janela da cabine do condutor do trem fica após a parada.

Há também recomendações expressas para não andar à noite, sozinho, no Central Park, um local turístico, e nas ruas em geral. Mas acho que isso vale para qualquer grande cidade no mundo, Brasil incluído.

Mesmo assim, aqui ainda é muito diferente nos relacionamentos interpessoais. Não se vê uma conversa mais animada pelas ruas, as pessoas andam rápido, ensimesmadas, um tanto desconfiadas. O frio facilita a introspecção, penso eu. Mas no verão a postura é parecida.

Certa vez, caminhando com um amigo peruano em um parque público, uma mulher deixou o carrinho de bebê que conduzia (com uma criança dentro dele), virar. Como estava perto dela e vira a cena, me movi para ajudá-la, no que fui desestimulado pelo amigo, morador de Nova York havia décadas. Porquê? Porque a mãe pode pensar que você quer raptar a criança, disse-me. Que coisa terrível! Espero que no Brasil eu ainda possa ajudar as pessoas nas ruas em situações semelhantes.

Mesmo no metrô, aqui, por cavalheirismo, quando oferecemos o lugar no banco para alguma mulher, as respostas são, em tradução livre, com ar de incredulidade: “Verdade?!” ou “Você tem certeza?” No Brasil, nenhuma mulher responderia assim, agradeceria de outra maneira. Isso tudo talvez seja parte do resultado de um programa da Prefeitura local, na época do Giulianni (ex-prefeito, atual candidato à Presidência dos Estados Unidos, pelo partido Republicano), chamado de “Tolerância Zero”, que preconizava a aplicação da repressão e uso da lei em qualquer delito cometido, mesmo os mais leves. Mas acho que é produto de séculos e séculos do jeito de viver do americano.

Não se muda as características de um povo de um ano para o outro. E isso ficou muito mais rigoroso depois do 11 de Setembro, quando as ações de prevenção a um próximo (provável?) ataque terrorista ficaram a um nível que beira a paranóia. Passa-se por todos os tipos de detectores de metais e revistas em todos os prédios públicos, guardas armados por todos os lados.

Nesta semana, após uma grande nevasca na cidade, aconteceu uma coisa trivial, mas inacreditável para os nossos padrões tropicais. A maioria dos carros que ficou estacionada nas ruas não pôde ser retirada, por causa da alta camada de neve, que atingiu cerca de 10-13cm (4-5 polegadas, unidade de medida mais usual por aqui). E como há uma lei que exige que haja alternância entre os lados das ruas para se estacionar os carros e também parquímetros marcando os limites de tempo que cada carro pode ficar estacionado, a Prefeitura aplicou multa em todos os proprietários dos carros que não haviam saído dos locais, provocando uma revolta destes. O próprio prefeito saiu na imprensa dizendo ser possível retirar os carros naquelas condições, enervando ainda mais os proprietários multados.

Os jornais faziam enquete perguntando quem tinha razão. E eu, o que acho disso? Ainda prefiro os flanelinhas ou os guardadores de carro.

New York-USA, 12 de março de 2007.
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Foto Empire State Building: biztravels-pix.net/pix.php?p=406&l=468
Foto mulher e carrinho com criança: allabout.co.jp/.../2tebura-babycar.jpg
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Lin Chau Ming é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Ensino "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (1981), doutor em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1996) e doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995). Atualmente é professor adjunto da UNESP em Botucatú-São Paulo. É editor chefe da Revista Brasileira de Plantas medicinais. Este ano (2007), Está hoje em Nova York, na Columbia University, fazendo pós-doutorado na área de Etnobotânica.

1 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Como diz o professor Marcondes, o local e o universal se tocam. Conhecer mais sobre Nova York é sem dúvida uma experiência interessante que nos proporciona o nosso amigo LIN.

6.6.07  

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