Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

14.4.14

CONTOS DE ANTÔNIO LUCIANO BONFIM

                            
                                             O Inexistente

Passava por entre as pessoas como um vulto. Viam algo por um instante ... Depois mais nada. O vulto em questão tinha duas pernas, dois braços e uma cabeça. Era humano. Vestia-se de forma casual, alguém comum, mas tinha uma estranha peculiaridade, ninguém se lembrava da sua existência.
Era um eterno passante de primeira vista, estando por todos os lugares sem deixar a mais vaga lembrança. Ele nunca soube como isso começou, mas deixou de se importar depois de um longo tempo.
Um dia, começou a esquecer do seu rosto, da sua voz, dos seus cacoetes... Indo desaparecer pouco a pouco. Não sentia que estava morrendo, era algo muito pior, estava sendo apagado do papel pela borracha.

                                          A Quinta Tentativa

Os olhos viam e iam  ao pisca-pisca do faróis. Uma noite densa de chuva o evocava dos seus sonhos etílicos perdidos em terras estranhas no seu calhambeque. A sua longevidade era um porre do qual ele queria se livrar há muito tempo, a ausência da dor o agonizava e a solidão o desumanizava a cada século, testemunhando maravilhas e horrores de novas humanidades.
Estava cansado de ver ... De ouvir ... A fada verde fazia-o esquecer da Árvore do Mundo que ele abandonara há tempos esquecidos, desde que solvera a seiva ... “Nós estamos certos ! Vocês estão errados ! O brado que ribombava em sua mente na boca dos tacanhos homens formigas.
Tenta alcançar a garrafa, pegando desajeitadamente, e a joga fora e acelera abruptamente. A atenção desaparecia, havia apenas os olhos fixados na curva do abismo. Capotaria floresta adentro até explodir como previa. O carro se lança no ar ... Essa era a quinta tentativa neste século.
            
                                        O Som Ausente

O céu encontrava-se em uma densa escuridão que engolia o brilho das estrelas, o som crepitante da madeira queimada predominava na floresta em seu silêncio de luto. Em um entulho de cinzas e de galhos retorcidos, emerge o peba, com os olhinhos arregalados diante do fim, caminhando no meio da desolação, sem saber se era dia ou se era noite, à procura de água.
Onde havia água só existia uma lama negra e espessa como éter. Em passos curtos, o peba percorria o vale ausente, vê, ao longe, ossos de temíveis predadores de outro tempo que não pareciam existir, as regras,  daquele mundo, foram apagadas em um clarão. Farejava, tremendo o focinho, os ossos descarnados, mordiscando pedaços cremados.
A terra perdera as suas emoções, só no peba residia o instinto de viver. Percorria seus passinhos sobre colossos caídos, passando por entre seres de metal retorcido, sem rumo na vastidão do vazio. O pequeno animal tremia pela ausência de tudo, nunca ouvira tão terrível silêncio ...

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Publicados na coluna Ler do jornal “Diário do Nordeste” em 13/04/2014, e enviados por Bérgson Frota.

Sobre o autor : Antônio Luciano Bonfim é ipueirense há muito radicado em Fortaleza, dedica-se à ficção, à poesia e ao ensaio sobre a arte literária. 


                            Imagem : gimulek.blogspot.com.br

1 Comentários:

Anonymous Marcelo disse...

Valeu os contos, de natureza existencialista.

15.4.14  

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