Bérgson Frota
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São coisas do Ceará, haveria de dizer quem ouvisse tal estória, mas foi, o sol foi vaiado há 70 anos e justo na “Terra do Sol”.
O cenário, início de uma manhã cinza e lenta de sexta-feira, 30 de janeiro de 1942.
A Praça do Ferreira estava movimentada, com seus bancos lotados, costume na época, nas bancas os jornais a estampar as últimas notícias da guerra.
Naquele folclorico dia Fortaleza amanhecia pela segunda vez nublada, e tudo a indicar que naquela ainda pequena, bucólica e distante capital de província, se viveria mais um dia frio, com céu prestes a ribombar de trovões e certamente a seguir uma grande chuva.
Na época, o povo gostava do bem vestir, e o fazia à moda européia. Paletós e chapéus aos cavaleiros, a as belas donzelas traziam uma bem recomendada sombrinha de abas bordadas, matronas ainda a usar chapéus copiados ou vindos de estoques já passados da moda parisiense.
Todos portanto estavam envolvidos numa fria, confortável e desejável atmosfera européia.
Foi quando subitamente o sol apareceu, quase com um prazer vingativo, esquentando a apinhada praça e por conseguinte o resto da cidade.
Não demorou a vaia dada por inúmeras pessoas na Praça do Ferreira.
Ao aparecer, o sol frustrava um desejo a um prazer coletivo, gerando por segundos um sentimento de indignação vindo de toda a população da praça.
Naquele dia o sol foi o pior dos protagonistas. Foi ele rapidamente esquentando o dia e levando para longe a fria e desejada atmosfera setentrional.
As senhorinhas raivosas bem como toda a “elite” a ostentar seus negros paletós ,cartolas e chapéus, rápido procuraram abrigo em cafés e doceterias.
O dia foi do sol que se pôs no seu horário normal, também os dias seguintes voltou a brilhar por todo dia, talvez como rebeldia pela forte vaia levada, vaia que certamente jamais esperou.
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Nota : naquela época os jornais saíam à tarde , esta é a edição de O Povo do mesmo dia.
4 Comentários:
Interessante abordagem de um fato histórico pitoresco e hilário da história do Ceará. Valeu, amigo!
Gostei da crônica, bem detalhada e criativa, da vontade de ler mais de uma vez sem se casar.
Gostei do trabalho, uma reportagem tardia de 70 anos, risos, mas as coisas da nossa terra são mesmo interessante. Amigo parabéns pelo texto, você como sempre é mil. Um feliz carnaval.
P.S. O livro é uma jóia. Obrigado.
Um ótimo artigo, mais uma vez parabéns.
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