UM DIA DE CHUVA EM FORTALEZA
Acordo sonolento, e o despertador a marcar piscando seis e cinco da manhã.
Coragem de sair da quente e chamativa cama, com lençóis desarrumados e travesseiros fora do lugar. Resisto, mas os compromissos chamam-me sugerindo como “ajuda” o frio chuveiro e o café quentinho.
Lá fora chove forte, isso desde a madrugada.
Não demoro, logo estou no chuveiro e em alguns minutos, sentado em frente à mesa posta, saboreando um quente e aromante café.
Relâmpagos seguidos por trovões dão um toque de desestimulo, mas o dever me prepara para o dia que há de me exigir calma, atenção e agora dupla disposição.
Desço lento a engarrafada Desembargador Moreira, e já vejo na frente o que espera-me. Os trovões tornam-se fortes e a chuva cai a cântaros.
Escuto de forma a relaxar uma música qualquer.
Espero e vou avançando de forma lenta, o tempo vai passando e finalmente chego ao trabalho.
Ninguém de bom humor, mas forçando a convivência pacífica e harmoniosa, como um sigiloso pacto já antes feito.
Os ponteiros passam, descubro que deixei uma pasta na parte traseira do carro. Saio e enfrentando a forte chuva com um vento frio a soprar atravesso cauteloso o estacionamento mirando o carro, que passa a parecer-me escondido entre os outros.
Finalmente tiro a pasta e rápido procuro voltar com uma capa improvisada de plástico a proteger os papéis.
Volto ao escritório já quase na hora do almoço.
Os trovões anunciam mais chuva, esta que vai durar todo o dia, penso.
Procuramos não falar em problemas a nos esperar. Engarrafamentos, perigos de batidas e finalmente o tempo a se redobrar por causa da chuva.
Comentamos as rotas menos engarrafadas, e isso nos anima. O trabalho continua.
Logo estamos de saída.
Novamente o mesmo ritual, vencer os grandes e dobrados engarrafamentos em Fortaleza nos dias de chuva, buracos, ruas estreitas e falta de novas vias, já há tanto pela população reclamadas.
Chego em casa, escuto os recados da caixa postal jogando displicentemente o paletó molhado numa solícita cadeira.
Assim um dia de chuva faz dos fortalezenses na atualidade uma dura prova de resistência, física e psicológica.
Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.
8 Comentários:
Um prazer publicar mais um tema de Fortaleza, onde estive durante esta semana. Obrigado, professor Bérgson!
Um dia de chuva em Fortaleza, bravo aqui em Fortaleza, pelo meio dia já estamos com chuva "grossa" desde de madrugada.Oportuna crônica, parabéns.
Um dia de chuva forte ontem, finalmente parou na metade da tarde, a cidade está cheia de buracos, é realmente uma dificuldade de se andar de carro em um dia assim. Ao autor a sensibilidade de captar o "inferno" que um "inverno" desequilibrado pode nos trazer. Parabéns.
Inferno e inverno, gostei, professor em alemão o "v" tem som de "f", uma ironia, como se vê o quanto uma letra basta para trocar o sentido da palavra. Sua crônica chega de encomenda a nós da capital que nesta semana enfrentamos de fato um inferno neste inverno descontrolado. Um excelente trabalho.
Texto maravilhoso!
Ainda bem que o sol resolveu dar o ar de sua graça, não aguentava mais tanta roupa molhada no varal rsrs
Aproveito para parabenizar pela bela crônica do blecaute, muito bom mesmo!!!
Abraços e amei o blog
Oi Bérgson, aqui neste fim de mundo a Lurdinha , seus artigos são fantásticos um cheiro e beijo meu linndo.
A barra tá pesada aí hem amigo, puxado mesmo pelo que lí. Parabéns pelo trabalho, pela disposição no que faz. Um abraço do amigo.
Bérson,
A propósito de sua crônica, em linguagem de contista, enfocando o desprezo das praças públicas da Capital, em especial do histórico Passeio Público, lamento que a incúria da Administração Pública com os bens públicos que, como sabemos, pertencem, por disposição Constitucional(Art.216,inciso V), ao patrimônio cultural dos cidadãos, tenha chegado a tais extremos onde são furtadas ou danificadas pelos vândalos, estátuas dos ícones da civilização greco ocidental.A esse respeito já fiz mais de um comentário na seção de cartas do DN. Afinal, para que serve a Guarda Municipal? Dentre suas finalidades intitucionais está a de zelar e proteger as praças públicas. Parabéns por sua consciência cívica.
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