CRÔNICA DE UM BLECAUTE
A pressa levava-me em grande velocidade pela Domingos Olímpio, que larga e não engarrafada, felizmente numa noite sem chuva, fazia meu carro seguir numa rota leve, tranqüila, quase a voar.
De repente, próximo ao cruzamento em direção a Antônio Sales, a escuridão.
Uma brusca freada fazendo o carro traçar no asfalto um quase círculo, jogando-o num terreno cujo um pneu ficou preso a um pequeno e fundo buraco, este, culpa da Cagece, segundo declarações municipais.
Tudo é escuridão.
Carros passam com luzes acesas em confusão a buzinar.
Tento sair, o buraco prende o pneu traseiro do lado esquerdo do veículo. Forço a ré e nada.
Culpa da Cagece, para desgosto da Fortaleza bela.
Diviso de onde estou à empresa jornalística O Povo, e penso na população que sofre na escuridão por toda cidade. Em cruzamentos com semáforos apagados e nas escuras e agora ainda mais perigosas paradas de ônibus e terminais.
Um som forte, duas batidas de veículos, calculo.
Passam lentos e cautelosos, um, dois, três, e quatro ônibus.
Acelero com mais força. Talvez um impulso maior tirar-me-á dali, penso. Mas nada.
A buzinada aumenta.
E Fortaleza mergulhada na total escuridão.
O tempo passa, temo sair e tentar levantar e empurrar a parte presa. A cautela obriga-me a ficar na segurança do veículo fechado.
Forço novamente sem resultado o acelerador.
E o tempo passa. Culpa da Cagece, o maldito buraco a reter-me.
Finalmente a luz chega.
Os semáforos voltam a funcionar e várias batidas são agora visíveis.
O trânsito começa a normalizar-se.
Dois guardas levantam e empurram meu carro que pela posição já atrapalha o movimento. Agradeço com duas buzinadas e sigo em direção à Antônio Sales.
Em casa, cansado e estressado, praguejo pela existência de tantos buracos na cidade, principalmente pelo que me reteu. Talvez devesse agradecer a Cagece por ter com isso me imobilizado e evitado quem sabe, no então caos do blecaute uma provável batida.
Ao deitar-me, depois de um relaxante banho, pensei na propalada Fortaleza bela, e por segundos antes de dormir me veio a dúvida se de fato era da Cagece ou senão de outro órgão municipal a responsabilidade da existência de tantos buracos nas ruas de nossa cidade.
( Foto do jornal O Povo de Fortaleza em 03 de fevereiro durante o blecaute que durou 01:00 hora )
8 Comentários:
Obrigado, amigo Bérgson por esta competente e oportuna crônica. Um abraço!
Uma crítica sutil a afirmação da Prefeita de Fortaleza que diz ser os buracos inúmeros na cidade, de responsabilidade da Cagece.
Uma crônica que me fez rir, o fato é trágico, um blecaute que muito nos trouxe problemas, mas essa do buraco feito pela Cagece, e que se tem dúvida se de fato é ela a responsável pela buraqueira em Fortaleza, deu um toque de crítica a administração de nossa urbe.
Parabéns pela crônica amigo,depois me manda uma foto e-mail do fatídico buraco que prendeu o pneu do carro e gerou essa beleza de texto, sem falar do plano de fundo que foi o apagão.Ah, ah, ah. Um abraço.
Parabéns de volta professor, um bem escrito trabalho de crítica a administração municipal(buracos) e nacional (apagão).Nota dez pelo texto.
Oi Bérgson ! Lí tua crônica primeiro no blog, saiu hoje no jornal O Povo caso ainda não saiba. Um trabalho consciênte e bom de se ler. Parabéns chapa.
Um excelente trabalho sobre o apagão professor, sua verve crítica deste fato nos alerta para os buracos num fato ocorrido esporadicamente, do qual não estamos totalmente livres. Parabéns.
Com apagão a luz de velas, seu artigo grita por nós do interior, um beijo. Parabéns.
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