Por
Bérgson Frota
Uma cidade do interior como cenário.
A lua cheia, com fracas, mas gasosas nuvens a
riscar o céu.
Em torno daquele velho e
respeitado senhor em sua cadeira de balanço, várias crianças.
E a
narrativa a nos causar medo.
Falava do lobisomem, e
ouvindo mais procurávamos a nos aproximar um do outro.
Era em Ipueiras, no tempo de quando ainda
criança.
“O homem então se
impacientava, e corria para o mato perdendo-se no fechado mata-pasto,
rolando-se no chão de mato já amassado, e lá no céu a lua ainda a influenciá-lo.
As mandíbulas começavam a crescer parecendo as de um cão, as órbitas
arredondavam-se e passavam a ter cor amarelada.
Pêlos começavam a
cobrir-lhe o corpo, o rosto. As orelhas acompridavam-se e o nariz virava
focinho a lembrar o de um urso. As unhas das mãos e dos pés cresciam, as presas
se tornavam proeminentes. A pele
engrossava e amarronsava-se , por fim aquele ser monstruoso uivava com força
para a lua.”
Nós ficávamos com os olhos
vidrados no narrador, imaginando a horrorosa transformação. De forma que não
sei explicar havia a necessidade do medo, do susto para nossa criação, para o
nosso crescimento cognitivo.
“Correndo pelas matas escuras, arrodeando a
cidade, como se a buscar uma presa, que se aventurasse na escuridão.”
Olhávamos um para o outro
como a confirmar um pacto mudo já feito de voltarmos juntos para casa.
“Assim ele atacava qualquer criatura,
homem, mulher ou criança, e também animais. Sendo que se fosse gente, na
próxima noite de lua cheia, também ia virar um lobisomem.
Só
uma bala de prata no coração poderia abatê-lo, e libertá-lo da maldição.”
O nosso narrador dava uma
pausa, olhava para a lua e dizia :
--- É, hoje é dia de lobisomem
!
Ficávamos calados como
hipnotizados pelo medo.
--- Vão com cuidado pra casa,
até eu já vou me recolher.
Confirmávamos e começávamos a
sair juntos.
Olhávamos para o céu vendo a
lua cheia que parecia a nos lembrar da fera que naquela hora estava certamente
cercando, e esperando na escuridão das matas próximas, o incauto que diferente
de nós, não havia sido alertado que a noite era de lobisomem.
Desenho : dallianegra00.blogspot.com
BÉRGSON FROTA, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.
3 Comentários:
De volta o professor com uma crônica interessante sobre as crenças de nossa cidade. Parabéns, mestre!
Valeu professor, sábado passado foi com certeza dia de lobisomem, só pelo tamanho da lua dava medo. Parabéns pelo texto.
Fantástico a crônica, gostei de como a narrativa é feita, até chega a assustar. Parabéns ao autor.
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