EM LOUVOR À MINHA TERRA
Embora com o mesmo aspecto físico que as cidades do interior apresentam, Ipueiras tem qualquer coisa que a difere das demais comunas do nosso sertão.
A cavaleiro da soberba cordilheira da Ibiapaba, que vista da cidade parece uma imensa fita azul a ondular no poente, salpicada de esguias palmeiras, os crepúsculos chegam sempre mais cedo, porque a sombra da serra desce por sobre o casario multicor como um grande véu plúmbeo.
A cidade é vista de todos os seus ângulos. Lá para o leste está o açude, aquele mesmo açude que me viu menino, de baladeira no encalço de jaçanãs e mergulhões, correndo na parede atrás do pássaro chumbado, ou descendo para represa onde os coqueiros e as enormes mangueiras oferecem um clima de oásis.
O chafariz que do alto mais se assemelha a um monumento do tempo de Mausolo, fica postado numa das principais entradas da cidade. É lá que a alma do povo humilde de minha terra, grita as suas necessidades e chora o seu abandono.
O Arco de Fátima, o mais belo marco da área urbana, se ergue na rua Gal. Sampaio e é bem o símbolo, o atestado da fé transbordante do ipueirense. Lá, quer nas horas quentes do sol a pino ou quando o grande astro já se vai dobrando por sobre a Ibiapaba, tem sempre alguém com os joelhos na terra, implorando uma graça à Virgem da Iria.
A Escola Normal Rural, edifício vigoroso do ensino de Ipueiras, enfeita com os seus dois vistosos pavimentos a Praça da Bandeira. É lá onde a nova geração está encontrando no amanho dos livros o caminho das ciências.
Um ligeiro salto passamos por sobre à avenida Getúlio Vargas, o coração da cidade, onde o society se reúne nos dias de festas e em que cada banco de cimento é um confessionário de amor. Nas noites de lua, quando a soberba rainha do espaço gira no alto, os violões sentidos, choram mágoas de romances fracassados, que a história só a velha praça conhece.
A Prefeitura ali bem perto, dorme com a sua galeria de edis o sono de Prometeu ! ?
Bem no centro da grande praça está a igreja ; com sua esguia torre para o alto, parece nos apontar o caminho de Deus. Tudo nos fala de um tempo, de álacres noitaros, das matinais alvoradas quando a santa padroeira é festejada em dezembro !
E vamos chegando ao velho rio Jatobá, à ponte, ah rio da saudade, das pescarias, dos banhos, cada curva que ele dá é um relicário do passado e são tantas as suas curvas ! Como nos lembra uma infância feliz e longínqua !
O carnaubal de minha terra é o mais belo do mundo ! À tarde em cada carnaubeira canta uma graúna. Quando a sombra da terra vai chegando, a grande orquestra inicia das copas soberbas e virentes a mais maviosa canção que já se ouviu : é a canção da saudade. Lembrá-la é rever minha terra, é escutá-la nos seus sussurros de amor.
É assim a minha terra : não há poeta que lhe diga a grandeza, não há descrição que lhe conte os encantos !!!
3 Comentários:
Esta crônica de Jeremias Catunda data de 1959. Bela crônica de quem sabe como ninguém falar de sua terra pois lá sempre viveu e usufruiu das maravilhas lá existentes. Falar do florescer das jitiranas, que ainda hoje apresentam um lindo espetáculo, só com conhecimento de causa.Falar das jaçanãs, hoje escassas, só menino que viveu de baladeira nas mãos.Jeremias fala porque tem panos para mangas.
Hoje a rua General Sampaio já saiu do mapa, A praça Getulio Vargas também,e certamente guardarei esta crônica como lembrança de uma Ipueiras antiga, com ruas e praças com seus nomes originais.Não comungo da mesma opinião dos que teimam em mudar nomes de ruas, praças e etc...
è sempre bom ler e reler Jeremias.
Dalinha, seu comentário foi excelente. Jeremias é isso mesmo. Alguém que fala de sua terra com grande competência e estilo.Vamos continuar divulgando a obra desses luminares.
Só para lhe dizer que gostei muito de Fortaleza e de toda essa região, mas principalmente das pessoas !
Bom fim de semana.
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