SAUDADE por Luiz Alpiano Viana (12.04.2007)
12.4.07
SAUDADE
POR
LUIZ ALPIANO VIANA
Em Ipueiras vivi todas as fases de minha vida: infância, adolescência e adulta. Como posso esquecer dos lugares onde nasci, onde namorei, onde peralteei, dos banhos no rio Jatobá, das pescarias com um litro branco de fundo estufado para dentro! Meu rastro está gravado em volta da estação ferroviária, na calçada do Guarani e nas salas do Colégio Estadual Otacílio Mota.
Cada ipueirense tem uma história belíssima para contar! Quem não se lembra de Dona Diana dedilhando numa clave de dó maior, energizando o ambiente nas festas de Nossa Senhora da Conceição e nas missas dominicais! Quem não se lembra também de Prêta, mulher do pipoco, dos dribles desconcertantes de Paiaz, da locução de Casca, do Zeca Bento na calçada do cartório, gritando pelo Tadeu! Ah Ipueiras, de ti nunca me esquecerei! Onde quer que esteja um filho teu, honra te prestará com disposição e orgulho. Teus filhos, netos e bisnetos, que brincam com as letras, sabem conjugar muito bem o verbo enaltecer.
Os que são cultos te dedicam livros, crônicas e poesias. E eu, o menor dos menores, ofereço-te este texto, não no estilo jornalístico e acadêmico dos que constantemente te escrevem, mas com a verdadeira correção gramatical do amor, da gratidão e da humildade. Eu também quero escrever-te poemas nem que sejam de versos monossilábicos. E quando eu os fizer não me envergonharei dos erros de gramática.
Aquele que já viu o sol nascer por traz do morro do Cristo e se aninhar na serra da Ibiapaba, tem nas veias o sangue de uma tribo que, como eu espezinhando a língua de Camões, habituou-se a escrever sobre sua cidade.
Assisti à derrubada das carnaúbas do centro da cidade. Vi Jeremias clamar para elas permanecerem de pé, mas o progresso falou mais alto e o machado impiedosamente venceu. À noite, na Rádio Vale do Jatobá, Jeremias lia uma crônica que dava por encerrada a época dos meninos que cavalgavam num talo de carnaúba. Como ele, eu também cavalguei num alazão, um ginete por todos admirado, com uma calda bem cuidada, ao estilo manga larga.
A cidade cresceu e com ela também, seus filhos. Muitos tiveram de sair em busca de melhores dias, outros ficaram, onde ainda estão até hoje. Mesmo morando distante, o ipueirense volta de vez em quando para participar da festa de Nossa Senhora da Conceição. A banda de música no patamar da igreja e a batida do sino pelo Antônio Jardilino, nas manhãs de domingo, convidando a comunidade para a Santa Missa, dá-nos um aperto no peito e a saudade faz-nos recordar memoráveis momentos, principalmente do primeiro beijo na primeira namorada.
Um homem raquítico, vestido de terno, gravata, chapéu de massa, sapatos pretos, caminha à noite, a passos lentos, na calçada da Praça Padre Angelim de frente à Igreja Matriz. Ele cantarola uma canção que eu não conhecia. Certamente uma de sucesso de sua época... Dario Catunda, meu mestre de língua portuguesa, não foge à regra, é um exemplo ímpar de cultura e de cidadania. Falar desse homem é preciso conhecê-lo bem, pois se trata de um ser humano do mais alto nível espiritual e humanitário. São coisas desse tipo das quais o povo de Ipueiras tanto se orgulha. Honro-me por ser conterrâneo de Costa Matos, Gerardo Mello Mourão, Frota Neto, Boré, Heládio, Major Sebastião, Tim Mourão e tantos outros.
Eu te amo muito, Ipueiras! Teu sol é mais frio e aconchegante, tua brisa tem cheiro de mato verde, perfume natural da serra da Ibiapaba. Teu povo, como sempre hospitaleiro e cavalheiro, tem o coração cheio de amor e paz para dar. Fica em paz sob a proteção do Cristo Redentor, e dorme tranqüila à margem do Jatobá. Tu serás para sempre, Ipueiras, minha eterna e querida namorada!
______________________________
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial