CONGRESSOS
CIENTÍFICOS DE AGRONOMIA. O ENCANTAMENTO E A PACIÊNCIA. DEPOIMENTO DE UM
DINOSSAURO.
Por
Jean Kleber de Abreu Mattos, Eng. Agr.
Estamos
em 2016. Tenho 72 anos e participo de congressos técnico-científicos a mais de
cinquenta anos. De alguns fui da Comissão Organizadora. Nos anos 1960s os congressos
daquelas que hoje são grandes sociedades científicas em diferentes áreas da
agronomia e afins, eram bem simples em sua organização. Era o começo de tudo.
A
massificação das sociedades científicas trouxe a impossibilidade de se manterem
orais todas as apresentações de trabalhos, o que era mais estimulante, sem
dúvida, embora mais tenso. Prova de fogo para os novatos, que tinham que
encarar um debate público.
Surgiu
então a figura do “poster”. Ele tem normas, estilo até. Domínio do programa “Power
Point” no mínimo, é necessário para se fazer um “poster”. Firmas existem que
imprimem o “poster”. Colorido e caro.
Os
resumos para os anais que hoje estão pelo menos na forma de CD, têm que estar salvos em PDF, que é um programa que impede que o texto seja corrompido por outrem.
Com a concorrência atual e as possibilidades de adulteração criminosa, há que
se prevenir. Sempre peço a meus colegas que têm o tal programa no computador,
que salvem meu resumo como tal. Uma ajuda.
No
computador buscamos o arquivo em PDF eleito, mediante o campo “procurar” e, uma
vez anexado, o enviamos. O sistema somente abre a chance,
óbvio, se constar nele que a nossa inscrição foi feita. Daí ganhamos uma
senha...seguem–se mais algumas operações...
Recentemente
resolvi quitar meu débito com uma sociedade científica. Fui informado de que
deveria acessar um site especializado em cobrança usar o cartão de crédito e
registrar lá o pagamento no link da sociedade. Pedi ao meu filho que me
ajudasse.
Um
e-mail do tipo “no replay” me diz que um assessor julgará previamente meu resumo.
Seleção. É justo. Sem esse cuidado peças absurdas poderiam chegar ao conclave.
Afirmações insustentáveis poderiam ser apresentadas gerando constrangimento e
desprestígio. Portanto, necessário se faz que um notável aprove o meu resumo. Incógnito,
claro. Eu não posso conversar, argumentar com ele de corpo presente, via de
regra.
Se
aprovado por AD HOCs notáveis, o resumo pode ser apresentado. O pesquisador,
que teve que pagar previamente a inscrição após aprovação, deve comparecer
ao conclave. Se por ventura algo o impedir de estar presente, seu resumo poderá
não constar dos anais por “não apresentado”, dependendo, claro, das normas.
Há o
risco de, se não comparecer, o congressista não receber o material do conclave mesmo
tendo pago a inscrição, o que não tem ocorrido felizmente, bastando solicita-lo
à Comissão. O nível de profissionalismo e organização da Comissão são
determinantes neste caso. Já aconteceu do congresso ser muito concorrido e o
material se esgotar. Comum hoje em dia congressos com número de inscrições
limitadas.
O
congressista também deve, em alguns casos, enviar um resumo tipo expandido.
Garantia da autenticidade da pesquisa. Às vezes o resumo menor é rejeitado por
razões burocráticas. Digamos, porque faltaram duas linhas à guisa de
introdução, num resumo de quatrocentas letras. Esta censura às vezes é capciosa.
Trata-se de um expediente para reduzir o número de trabalhos, consoante a
capacidade do congresso.
Se ele
conseguir comparecer, e para isso sua empresa geralmente o custeia, vai
perceber que entre centenas de congressistas, uns dois ou três interessados
estacionam em frente ao seu “poster” e o comentam. Geralmente seus amigos. Um
ou outro lhe pede que conte uma piada.
Em
agronomia nos velhos tempos proliferavam os trabalhos sobre competição de
variedades, efeitos da adubação, época de plantio, controle químico da pragas e
doenças, entre outros igualmente simples. Hoje destacam-se os trabalhos na área
molecular. Sinal dos tempos.
Mas
o que está se tornando um fenômeno, é o caráter impessoal das operações. Cada
vez mais as decisões pertencem a um computador bem programado. Não fosse isso
seria impossível administrar um congresso até de tamanho médio. Administração aliás,
feita por firmas especializadas. Interagimos, portanto, ao participar do evento,
com pessoas que não são nossos pares e sim executivos de uma programação
padronizada. Nunca nos viram “mais gordos”. Um amigo meu, fundador da
associação que promovia o congresso, esqueceu o crachá no hotel. Foi impedido
de entrar no recinto e não entraria se o presidente do conclave não o tivesse reconhecido
e providenciado outro crachá. Normas de segurança. Muito justo. Já tive um “poster”
surrupiado num congresso, antes da apresentação.
Portanto,
os congressos artesanalmente “feitos” por professores e estudantes, são coisa
do passado, remontando ao início da formação das sociedades que tanto cresceram.
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