Páginas

26.5.13

O OITIZEIRO DA MINHA RUA

Por
Bérgson Frota  

Daquela plantinha que um dia me surpreendeu quando rápido fechava o portão e ia para escola, e que depois providenciei uma pequena mas resistente cerca, e daí passei sempre a aguá-la. Ainda me lembrava.
Mas então fui crescendo e acostumei-me com sua sombra fresca e abundante de árvore crescida. Até que do acostumar-me fui esquecendo.
Mudei finalmente para longe.
E longe, hoje ao lembrar, recordei que um dia distante, fiz um poema sobre àquela árvore que vi crescer e que já não esperava mais ver.
Com a família vieram filhos e netos.
Então depois de muito tempo voltei a minha terra.
Procurava eu o endereço de uma clínica, a cidade havia crescido, e de crescida mudado.
Depois de caminhar um pouco, já no fim do dia, ouvi um som que levou-me à infância, era o badalar de um sino. Lembrei logo da igrejinha do meu bairro.
Estava na rua em que cresci e não mais a reconhecia.
Mas como podia eu exigir do tempo que não os mudasse, eu que quando lá garoto era hoje um ancião.
Encostei-me no tronco de uma enorme árvore, apreciando a brisa fresca de um imenso oitizeiro, e então percebi como a vida nos surpreende.
Aquele oitizeiro que me dava sombra, que heroicamente com suas raízes retorcidas resistia e lutava para viver, mesmo com isso rachando o cimento da calçada e doutro lado afundando as raízes no asfalto. Era o pequeno oitizeiro que ajudei crescer.
A clínica que procurava estava em frente. Uma sólida construção sobre o que antes foi a minha casa.
Abracei com olhos marejados o grande tronco e agradeci a Deus a felicidade daquele momento.
Balançando-se ao sabor do vento, a copa  do oitizeiro parecia sentir a mesma alegria.
Quando parti dali, olhei talvez quem sabe pela última vez meu oitizeiro, forte e valente. Que esperou certamente por mim, por aquele forte abraço que nos uniu e depois separou, me tornando por instantes a criança feliz e esperançosa que outrora fui.

Foto do oitizeiro : poeticamentempv.blogspot.com                        
                                                 
                                                                                 
Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.                        

2 comentários:

  1. Bela crônica, amigo. Tenho saudade daqueles oitizeiros da rua Duque de Caxias em frente ao Colégio Marista.

    ResponderExcluir
  2. Como gostei de sua crônica caro Bérgson Frota.

    ResponderExcluir