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12.7.11

O SOLITÁRIO MARA HOPE

Por
Bérgson Frota

Bem próximo da orla de Fortaleza está um grande cargueiro encalhado, recebendo sol, chuva, vento e a umidade marinha junto com pancadas constantes das ondas, aonde aos poucos e silenciosamente a maresia o vai destruindo, até o dia em que finalmente o mar o fará desaparecer para sempre.
É o Mara Hope, o solitário petroleiro.
Deixado ao sabor do tempo desde 1985, este navio recebeu muitos nomes e riscou os oceanos. Coube ao desejo de Netuno fincá-lo preso às areias diante do verde mar cearense que banha a orla e a servir mesmo por um século ou meio de uma atração que não deixa de retratar a solitária sina de um agora inerte cruzador de mares.
Poeticamente poderia ser visto como um capricho dos deuses prendê-lo, condenando ou a presenteá-lo a presenciar o progresso da capital cearense.

A título de imortalidade, no cinema o Mara Hope se eternizou na cena final do filme Bella Donna de Fábio Barreto (1998), quando a atriz americana Natasha Henstridge de sua proa, em ângulo fechado dá adeus a um jangadeiro ( Eduardo Moscovis ) que na fita acompanha o grande barco a se despedir.
Ainda hoje, mais desgastado, o grande cargueiro esporadicamente recebe visitantes que o escalam por uma escada metálica presa a parede do navio.
Nas noites de forte ressaca, fico às vezes a lembrar daquele barco escuro, esquecido e sem mais utilidade. Será que se move o velho cargueiro ? Existe sim um som de ranger ouvido como um gemido sentido, talvez de saudade do passado ou a chorar lamentando sua agora solidão.
Ao Mara Hope, onde já há muito tempo estive, dedico esta crônica com feliz saudade.

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Crédito das fotos : (navio) mardoceara.blogspot.com
(filme) filmkultura.hu


Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.

9 comentários:

  1. Mais um primoroso trabalho de pesquisa do professor Bérgson Frota. Desfrutem.

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  2. Elenice Braga15.7.11

    Uma crônica que nos encanta. Parabéns Bérgson.

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  3. Pedro Ailton16.7.11

    Parabéns pelo trabalho amigo, quando estive em Fortaleza ví de longe o Mara Hope. Bela pesquisa.

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  4. Leni Bastos18.7.11

    Parabéns pela crônica que faz uma homenagem ao Mara Hope, estive no navio há quinze anos e de lá saltei várias vezes ao mar. Pena que já esteja tão deteriorado.

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  5. Marciano18.7.11

    Uma crônica de um navio que marcou época aqui em Fortaleza, nossa turma de pedagogia fez a despedida nele. Amei.

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  6. Eu sou Carlos Pontes, um novarussense, cumprindo lembrar que Nova-Russas já foi distrito de Ipueiras. Portanto, sou também ipueirense.
    Gostei das crônicas postadas por Bergson Frota.
    Aquela dos cavalos de palhas de carnaúba me feizeram lembarar: "Eu também fiz isso".
    Caro Bergson, tenho lá também umas cronicazinhas. Poderia publicá-las com vocês, claro se contar com a generosidade de vocês?
    Abraços
    Carlos Pontes

    12.8.11

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  7. Bérgson Frota14.8.11

    Agradeço pelos comentários ao meu trabalho, é a generosidade de vocês que me estimulam a não deixar de escrever e na medida do possível tocar os sentimentos. Gostaria de deixar mais claro a Carlos Ponte que para se publicar crônicas no blog Suaveolens, é necessário enviar o trabalho para o e-mail do Sr. Jean Kléber, uma pessoa muito acessível e com certeza lhe dará a atenção devida.

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  8. Anônimo2.1.13

    O navio que aparece na cena final de Bela Donna não é o Mara Hope de Fortaleza

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  9. Anônimo22.2.13

    linda crônica me encantou realmente, ñ só pelo fato de eu ser apaixonada por este tipo de matérias navios, castelos, casas antigas tudo que envolva o passado.

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