Páginas

16.9.14

NEM FREIRA NEM MERETRIZ


NEM FREIRA NEM MERETRIZ
Por

Dalinha Catunda
*
Minha mãe me abençoou
E recomendou Juízo,
E foi assim que deixei
Um dia meu paraíso.
*
A chuva de comentários
Inundou minha cidade.
Alguns até tinham pena.
Outros falsa piedade.
*
Agora quando me lembro
De rir eu tenho vontade 
Das fofoqueiras em festa,
Da falação na cidade.
*
- Do jeitinho que ela andava
Amiga pode apostar 
Com aquela saia curta
Era pro rabo mostrar!
*
-Ave Maria do céu!
É de família tão boa...
Mas não se deu ao respeito,
Vai virar mulher à-toa.
*
- Comadre bata na boca,
Você tem suas meninas.
- Mas não educo nenhuma
Para seguir certas sinas.
*
- Você já sabe da última,
Que a danada aprontou?
Namorou um desquitado,
E o pudor onde ficou?
*
Já viu? Está de barriga!
E ela nem é discreta,
Com aquela pança toda
Andando de bicicleta.
*
Sem ligar pra comentários
Vivi minha mocidade.
Era uma iniciante
Com aval da pouca idade
*
Nascida no interior
Onde reina a hipocrisia,
Onde os podres de família
Sob o tapete escondia.
*
Quem queria me guiar
Dar exemplos não sabia.
Assim vivi minha vida,
Conselho não recebia.
*
Não baixei minha cabeça,
E resolvi ser feliz.
Não entrei para conventos,
Nem me tornei meretriz.
*
Porém quando fui tangida,
De fato o mundo ganhei.
Peguei a estrada da vida,
Inventando a minha lei.
*
Sempre parava e pensava...
Que gente filha da puta!
Abarrotada de podres,
Olhando a minha conduta.
*
Feito uma rês desgarrada,
Levando cercas nos peitos.
Não deixei que me abatessem
Persegui os meus direitos.
*
Porém se eu não fosse abelha
E nem tivesse ferrão,
Estava mesmo lascada,
Penando pelo sertão.
*
Quem previu minha desgraça
Ferrou-se na previsão
Hoje me chama de exótica
E não praga do sertão.
*
Foto e versos de Dalinha Catunda

Nenhum comentário:

Postar um comentário