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26.4.07

QUANDO NOVEMBRO CHEGAR

Por
Jean Kleber Mattos


Em novembro de 2004, atendendo a um apelo de meus colegas de faculdade, concordei em ser o Coordenador de Pós-graduação da unidade, por dois anos.

O coordenador é responsável pelo conceito do curso. Ele zela pela produção intelectual do grupo, pela excelência das bancas examinadoras, pelo equilíbrio do número de orientandos por orientador, pela coerência e ajuste das linhas de pesquisa.

É ele quem faz o relatório anual do curso, um tal complexo, detalhado e trabalhoso chamado COLETA, e do qual dependerá o conceito do curso. Ele faz um treinamento específico antes de operar o tal programa, tão complexo ele é. Dois meses para preencher.

Não bastasse tudo isso, administra recursos financeiros, os quais tem de repartir sabiamente com as áreas de pesquisa do programa.

A execução de todas essas atribuições não se dá sem que suscetibilidades sejam feridas. Há portanto, que administrar desavenças, desajustes, demanda de privilégios e a já conhecida dificuldade com os recursos humanos de apoio, raramente habilitados.

Senti-me, enfim, como o síndico de condomínio que tem duas alegrias na vida. Uma no dia da eleição e outra quando entrega o cargo. O resto é dureza. Nem férias integrais eu tinha mais.

Dois anos decorridos, já em novembro de 2006, findou meu mandato e eu entreguei, alegremente, o cargo. Alguns colegas pediram-me para encarar um novo mandato. Neguei-me. Estava exausto. Em comemoração, dediquei-lhes, em agradecimento pelo apoio, os seguintes versos:

Quando novembro chegar
Vou agradecer ao Senhor
Meu nome será Jean
E não mais Coordenador!

Vou passear com meu cão
Brincalhão e corredor
Meu nome será Jean
E não mais Coordenador

O Céu vai abrir a porta
Do inferno, nem o vapor!
Meu nome será Jean
E não mais Coordenador

Vou cuidar de minha vida!
Que se encherá de cor
Meu nome será Jean
E não mais Coordenador

Vou voltar a ter saúde
Dar adeus ao meu terror
Meu nome será Jean
E não mais Coordenador

Vou me livrar da loucura
Vou deixar este setor
Meu nome será Jean
E não mais Coordenador

Se eu matasse um leão
A CAPES outro ia por
Meu nome será Jean
E não mais Coordenador

Adeus Cadastro Discente
Adeus COLETA, que horror !
Meu nome será Jean
E não mais Coordenador

Aposentado não serve
Serei apenas professor
Meu nome será Jean
E não mais Coordenador

Graduação é bacana
Se levada com amor
Meu nome será Jean
E não mais Coordenador

Vou voltar a ter minhas férias
Como um bom trabalhador
Meu nome será Jean
E não mais Coordenador

Jamais me peçam que volte
Arreneguei do labor
Meu nome será Jean
E não mais Coordenador !
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Foto: Blog Ipueiras do www.grupos.com.br
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Jean Kleber de Abreu Mattos, cearense, nascido em Fortaleza, viveu em Ipueiras dos dois aos oito anos de idade. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco. Atualmente é professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

6 comentários:

  1. Anônimo26.4.07

    Jean deixastes o cargo
    e virastes um trovador.
    com certeza é bem melhor
    do que ser coordenador.

    como sou sua amiga
    sofri com a Tua dor,
    penastes mais que Jesus,
    sendo coordenador.

    ainda bem que largartes,
    esse nefasto labor.
    ou então seria um louco
    em vez de coordenador.

    Coordenastes a tua vida.
    coordenastes a tua dor.
    coordenando tudo isso.
    destes fim ao coordenador.

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  2. Resposta em versos, divinos, da poetisa que desta maneira lava-me a alma. Obrigado, Dalinha.
    Heloisa manda um abração. Eu e seus outros fãs Vanessa e Ivan, também.

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  3. Anônimo27.4.07

    Ilustre prof.
    Adorei sua decisão
    e seus belos versos, assim nós ganharemos mais um trovador e paixonado por tudo que faz, sem contar que terá mais tempo para visitar nossa terrinha onde o Cristo o espera de braços abertos.
    E com esta resposa de nossa iluminada poetisa é tudo de bom.
    Forte abraço,
    Tereza Mourão

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  4. É meu mestre, a vida é melhor assim
    para não parar num hospício. Professor já ruim, eu imagino como você se sentia. ´Vão-se os dedos e ficam os anéis.

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  5. Anônimo27.4.07

    Professor,
    Seu talento é visível em tudo que faz/ se ser cordenador foi um tormento/ agora passou, ficou para trás/ registrado apenas no pensamento.

    Não, não apenas no pensamneto/ também na história da instituição, pois sei que sua contribuição/ foi importante para seu fortalecimento.

    bom seria se no Brasil/ mais jenas houvesse/ quem sabe esta pátria varonil/ mais futuro tivesse.

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  6. Obrigado Alpiano, Tereza e Ângela. Puxa, este blog está pleno de poesia. Maravilha!

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