Bérgson Frota
Entre os anos de 1942 a 1945, no Ceará a seca continuava a fazer emigrantes que sem opção para sobreviver abandonavam seu torrão natal, muitos em sua maioria para sempre. 
Os sertanejos cearenses sofriam a fome nutrindo a esperança de um favorável inverno, ou eram atraídos para o sonho de ‘enriquecimento” fácil na Amazônia, uma outra frente de batalha que se dava longe dos palcos sangrentos da Europa denominado de Guerra da Borracha .
Calcula-se que em todo Nordeste 55 mil pessoas foram para a Amazônia, metade vindo a falecer devido aos precários meios de transporte, falta de assistência médica, alimentação escassa e finalmente lutas na grande floresta dos seringais.
O Serviço de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA) ,fazia forte campanha publicitária. A Amazônia era o “paraíso” para o homem nordestino, seu destino e triunfo na sagrada missão nacional de engrandecimento da Pátria.
A borracha traria para os aliados a vitória frente ao nazi-facismo que ameaçava o mundo. No SEMTA, depois de superficial exame médico, o trabalhador recebia um chapéu, alpargatas, blusa branca e calça azul, uma caneca, um talher, um prato, rede e cigarros, com salário de meio dólar por dia. Logo eram embarcados para a Amazônia.
Passaram a ser chamados de “arigós”, tal apelido vinha da pequena ave de arribação nordestina, que por característica vaga de lagoa a outra buscando alimento.
O número de cearenses que partiram é calculada em 15 mil, que junto aos outros iam em vagões de trem, carroceria de caminhões e na terceira classe de navios. Em sua maioria os arigós levavam toda a família.
Três meses de viagem, com caminhões a virar e navios naufragarem.A rota seguia de navio em direção ao Maranhão, Belém, Manaus e Rio Branco. Desta última eram divididos para pequenas cidades, concentrando-se portanto em grande número no atual Estado do Acre.
Para os arigós logo o sonho se desmanchava e o “paraíso” esperado começou a ser chamado de “inferno verde”.
O trabalho era duro e a disciplina exigida também. Em dupla trabalhavam os seringueiros enfrentando além da chuva constante as moléstias como a malária, febre-amarela, beribéri, a completar o quadro dantesco, onças, jacaré e cobras gigantes estavam sempre a espreita dos incautos.
O trabalho arrastava-se de 4 horas da manhã às 7 da noite. Era uma escravidão não oficializada. Outro meio nefasto que contribuía ainda mais para esfacelar as esperanças dos arigós era o tão odiado “sistema de aviamento”, onde comida, roupas, ferramenta e remédios eram vendidos a preços exorbitantes sendo estas lojas de provimentos mantidas pelos próprios patrões.
Numa caderneta o empregado do patrão anotava os débitos dos funcionários, trabalhando de forma minunciosa a fazer com que o empregado solicitante nunca saldasse o devido, cobrando até cinco vezes mais o valor da mercadoria. Enquanto que o valor da produção individual dos mesmos sempre vinha em inferioridade ao débito feito.
Terminada a II Grande Guerra, os americanos já obtinham borracha do oriente e não tardou inventarem a borracha sintética.
.
Os arigós foram abandonados a própria sorte e destes um número mínimo voltou para casa.
.
.
Assim encerrou-se na época “A Batalha da Borracha”, dos quase 60 mil soldados desta “guerra” na verde Amazônia, metade, em proporção quase 30 mil pessoas deixaram seus sonhos e últimos alentos de vida nas úmidas e sempre verdes terras do Norte. 
*______________________________________________
Fotos: site colegiosaofrancisco.com.br
_______________________________________________
Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual. 
Mais uma peça inestimável do escritor e pesquisador Bérgson Frota. Vamos aproveitar.
ResponderExcluirO Olhar profundo de pesquisador, de Bérgson Catunda, tem nos presenteado com trabalhos de grande importância em relação a história do Ceará e além dos seus limites.
ResponderExcluirUm abraço a todos,
Dalinha Catunda