Por
Marcondes Rosa de Sousa
Noite! No Curso de Letras da UECe, na Av. Luciano Carneiro, reencontro colegas. E, ali, todos me cobram impressões sobre o retorno à sala de aula: "Afinal, 18 anos depois de afastado para cargos públicos" - é a conta de um deles. Sem jeito, apenas sorrio.
Reiniciante, falo de arte e literatura aos alunos. E, a propósito da interação entre as artes, conto-lhes de nossos esforços, na UFC dos anos 80, por aproximar cinema e literatura, em seminário para o qual os dois mundos aqui acorreram, a pretexto de seminário a tomar por base a experiência do filme "Tigipió", de Pedro Jorge de Castro, sobre romance homônimo, de Herman Lima.
Marcondes Rosa de Sousa
Noite! No Curso de Letras da UECe, na Av. Luciano Carneiro, reencontro colegas. E, ali, todos me cobram impressões sobre o retorno à sala de aula: "Afinal, 18 anos depois de afastado para cargos públicos" - é a conta de um deles. Sem jeito, apenas sorrio.
Reiniciante, falo de arte e literatura aos alunos. E, a propósito da interação entre as artes, conto-lhes de nossos esforços, na UFC dos anos 80, por aproximar cinema e literatura, em seminário para o qual os dois mundos aqui acorreram, a pretexto de seminário a tomar por base a experiência do filme "Tigipió", de Pedro Jorge de Castro, sobre romance homônimo, de Herman Lima.
A proposta era abrir caminhos para que o cinema nacional então marcado por andar trôpego, herança da fotografia e do documentário - aprendesse com o ritmo da narrativa literária. Era de ver-se a euforia dos cineastas com a luminosidade do Ceará, descoberta por Orson Welles, em filme inacabado. E com o mover-se, latente em nossa literatura: "Aqui, tudo se mexe. Até na descrição das caatingas, como se sob o enfoque dinâmico de câmeras!"
Em casa, repasso em flashback minha sala de aula e seu entorno. Ecoa-me, aí, a queixa da Profa. Lourdes Macena: "Como falar em arte e de belo, em nossa escola, se ali e em seu redor é tudo tão feio?". Nas paredes, repouso o olhar sobre meus quadros. "Tudo coisa de pobre" - martela-me, aos ouvidos, Bernadete, a empregada doméstica.
Em casa, repasso em flashback minha sala de aula e seu entorno. Ecoa-me, aí, a queixa da Profa. Lourdes Macena: "Como falar em arte e de belo, em nossa escola, se ali e em seu redor é tudo tão feio?". Nas paredes, repouso o olhar sobre meus quadros. "Tudo coisa de pobre" - martela-me, aos ouvidos, Bernadete, a empregada doméstica.
E, no entanto, nossa pobreza neles se transfigura em belo, sob a intuição dos artistas. Curioso! Neles, tudo parece mexer-se: os mares bravios, o vento a açoitar os coqueiros, o povo em seu trabalho.
Olho a vida em meu entorno. Aqui, é verdade, tudo se mexe. Marca nossa! Também na sala de aula, universo que, malgrado pobre, há ser grande. É só questão de olhar e de tato!
O Povo, Fortaleza-Ceará, 01.10.2003
Foto: site epipoca.uol.com.br/.../poster/poster_17551.jpgOlho a vida em meu entorno. Aqui, é verdade, tudo se mexe. Marca nossa! Também na sala de aula, universo que, malgrado pobre, há ser grande. É só questão de olhar e de tato!
O Povo, Fortaleza-Ceará, 01.10.2003
Marcondes Rosa de Sousa, advogado, é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). É uma das maiores autoridades em educação do Brasil. Ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, é Colunista do jornal " O Povo ", onde mantém seus artigos quinzenais.
Este artigo de Marcondes Rosa de Sousa testemunha uma incursão memorável no mundo do cinema, enfim, das artes visuais, de um educador, professor, que mesmo depois de aposentado voltou à sala de aula para falar sobre arte e seu significado no processo de educação. Vale a pena ler.
ResponderExcluirParei para ler com atenção este texto de Marcondes e fiquei a pensar: Tudo é uma quetão de olhar.
ResponderExcluirO que muitas vezes parece pobre e feio aos olhos de muitos, aos olhos de outros tantos, é rústico e singelo e encanta os olhares captadores do belo.
Dalinha Catunda